Com Constâncio à frente do BdP foi "uma farra". Uma comissão com ânimos exaltados
Para Mariana Mortágua, "a banca fez o que quis" durante a governação de Vítor Constâncio no Banco de Portugal.
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Mariana Mortágua diz que o período em que Vítor Constâncio foi governador do Banco de Portugal, entre 2000 e 2010, "foi uma farra."
"A banca fez o que quis", acusou a deputada do Bloco de Esquerda durante a audição na II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da CGD e à Gestão do Banco, "financiou acionistas, montou estruturas paralelas, usou esquemas de offshores, deu créditos de favor, controlou grupos económicos. Foi uma farra e tudo isto aconteceu nos dez anos em que foi governador."
"Quando não há ilegalidades não se pode evitar a existência de perdas", responde Constâncio. "Pode discordar, mas é a lei. É a lei!"
"A supervisão não é uma espécie de polícia moral", argumenta - não compete ao governador fazer julgamentos sobre políticas comerciais quando tudo está dentro da legalidade.
"Não é o governador que vai ver tudo, é impossível" ou "não era eu que tinha esse pelouro", para além de "não tenho memória", são as frases mais usadas por Vítor Constâncio para responder às deputadas Mariana Mortágua e Cecília Meireles. Por várias vezes levantam-se as vozes e os ânimos exaltam-se na sala.
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Constâncio assegura que nunca recebeu nenhuma informação por parte da Caixa sobre operações dissimuladas ou créditos contra o parecer da comissão de risco e diz que o supervisor "não pode descobrir por si".
Cecília Meireles ironiza: os administradores deviam ter ligado para dizer que iam fazer operações fora da norma. "Os bancos nunca reportaram isto ao Banco de Portugal? Pois com certeza que não!".
A deputada volta à carga para perguntar ao ex-governador se durante o seu mandato teve conhecimento de alguma operação em concreto da CGD. "Uma que seja, qualquer uma". A resposta veio entre risos: "Eu tinha o meu tempo bastante ocupado".
Vítor Constâncio admite que pode ter havido falhas na supervisão, mas pede a Cecília Meireles "não me atribua isso pessoalmente".
"Não sinto que tudo correu mal, mas sinto que houve falhas em relação a alguns aspetos da supervisão", disse Constâncio já em resposta ao deputado do PSD Duarte Marques.
O social-democrata levantou uma questão sobre o papel do Banco de Portugal na verificação dos procedimentos de concessão de crédito da caixa, mas mais uma vez a resposta foi inconclusiva.
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