COP30: Líder do Povo Pataxó pede união ao mundo para castigar poluidores ricos

@blog de Líder Pataxó
Arassari Patxon, lider da comunidade indígena Pataxó, está na COP30 para denunciar que a natureza não pode estar a pagar a fatura dos países ricos que compram créditos de carbono, para continuarem a poluir, enquanto outros lutam por um planeta mais limpo e pede ação.
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No compasso de espera até ao início oficial dos trabalhos na Cúpula dos Povos, Arassari Patxon, lider da comunidade indígena Pataxó e outros dois companheiros, estenderam a esteira e encheram-na de pequenas esculturas em madeira, desde animais ( onças, macacos, pássaros) a instrumentos, como o toró (flauta de taquara), o boré (flauta de osso), o mimbi (buzina) e o uaí (tambor de pele e madeira), além de instrumentos de percussão como o maracá (chocalho).
Reparte tempo entre a graduação em Direito e os projetos culturais que coordena, porque não quer deixar morrer artesanato, tradições e conhecimentos, que têm passado de geração em geração, desta comunidade indígena, espalhada pela floresta, desde Minas Gerais ao sul da Bahia e que tem sofrido desde o século 16, mas a luta atual já não é contra espadas, nem fogo dos antigos colonos, agora é mesmo, contra "o desequilíbrio climático".
Tem voz crítica quanto aos mais poluidores e pede ação para algo mudar." Estamos nesta COP30 porque acreditamos que, para mudar tudo, só nós, povos originários, somos a resposta, porque nós estamos nas florestas. Preservando-as todos os dias e à medida que o tempo passa, o homem branco, em geral, aprendeu que para salvar o planeta, tem que ter muito investimento, muitos fundos, muito financiamento. Enquanto nós, povos da floresta, acreditamos que isso não vai ajudar em nada. Cada vez que um país ou alguém recebe dinheiro, está fomentando um mercado violento e perigoso que tem matado nossos povos na floresta.
Para o líder indígena, nenhuma mudança terá consequências, sem respeitar a natureza. "Acreditamos que a solução é respeitar o meio ambiente. Trabalhar em parceria com os povos indígenas diretamente e acima de tudo, amar a mãe terra. Respeitar todos os seres vivos. Esse é o começo."
Arassari Patxon pede união ao mundo para castigar poluidores ricos. " Porque tem vários países ricos que continuam sujando e pagando imposto de carbono. Quanto mais estão poluindo, mais pagam a outros países para continuarem a preservar o planeta e se continuarem a sujar, então não vai adiantar nós estarmos aqui lutando para proteger todo o ecossistema.Tem que haver uma mudança por completo. Todos os países têm que se consciencializar desse desígnio. Têm que evitar, sujar o planeta com essas fumaças ao libertar carbono para a atmosfera."
Os Pataxó há muito que perceberam a importância da redução das emissões de gazes com efeito de estuda. Boa parte da comunidade vive sem acesso a direitos básicos, como saneamento, água potável e luz.
Têm 36 aldeias em 6 territórios distintos e cinco comunidades demarcadas, a Nova Coroa, Itapororoca, Mirapé, Novos Guerreiros e Txihikamayurá e quando chove, a vida torna-se num inferno. As inundações destroem o pouco que têm e formam-se autênticos esgotos a céu aberto, que contaminam a água dos poços.
Por várias vezes, os Pataxó têm recebido ajuda humanitária. No caso da pandemia de Covid19, mas também no caso de sucessivas e violentas inundações, o que os levou à criação da rede de juventude indígena no sul da Bahia em 2022, que tem trabalhado com outras organizações não governamentais, para articular respostas a necessidades.
Dizem ser persistentes na luta pelas suas causas desde o século XVI, incluindo no massacre de 1951, quando foram atacados por forças policias, que incendiaram casas e violaram mulheres, levando à fuga e dispersão dos sobreviventes.
Os representantes deste povo indígena desde 2015 têm participado nas cimeiras da ONU para o clima. Estrearam-se na COP21 em Paris e nunca mais desistiram de dar visibilidade internacional às suas causas.
Pedem a defesa territorial na preservação da biodiversidade. Luta contra invasão de fazendeiros, especulação imobiliária e o avanço de monoculturas como o eucalipto, da empresa Veracel Celulose, que dizem estar a destruir rios e fauna local.
Também denunciam ataques violentos de milícias e pedem a sua criminalização, bem como, a demarcação de terras indígenas para proteção e preservação das espécies e dos povos.
A comunidade Pataxó também tem transformados fazendas degradadas em exemplos de agroecologia, capaz de combater a fome e a destruição ambiental com a produção de alimentos saudáveis e livres de agrotóxicos, de acordo com o Instituto Socioambiental, que atua em Rio Negro, Xingu, Vale do Ribeira e Amazónia.