Relatório deixa elogios, mas avisa para dependência do turismo, a evolução do mercado imobiliário e a despesa salarial do estado. FMI mais otimista do que o governo em relação à dívida e ao desemprego.
Corpo do artigo
"A dependência face ao turismo deixa Portugal vulnerável a choques externos", avisa o Fundo Monetário Internacional no relatório que conclui a sexta avaliação pós-resgate. A entidade liderada por Christine Lagarde lembra que o setor "tem beneficiado de desenvolvimentos geopolíticos que aumentaram a atratividade de Portugal face a destinos concorrentes".
Entre as mudanças externas que "podem prejudicar as perspetivas de crescimento" está também "uma desaceleração das trocas comerciais (especialmente com Espanha)".
A evolução do imobiliário, que tem sido empurrado em Portugal pela procura de estrangeiros, merece também avisos, com o FMI a pedir que as autoridades portuguesas "monitorizem cuidadosamente os desenvolvimentos no mercado da habitação".
O relatório, que reitera a evolução positiva do crescimento, do emprego, do défice, dos juros da dívida e da estabilidade financeira, numa economia que diz ser "mais forte", nota que "os riscos de curto prazo são sobretudo externos e parecem ser moderados".
Para lá do turismo e do mercado imobiliário, o FMI volta a avisar para as condições financeiras mais restritivas a nível global, "incluindo a redução de compra de ativos por parte do BCE".
Novas medidas para o malparado
O FMI destaca as "importantes heranças da crise", reiterando que o nível de dívida privada continua muito elevado, constituindo-se como "uma fonte de vulnerabilidade". E o crédito malparado, apesar das medidas já tomadas, carece de "novas iniciativas para melhorar o enquadramento legal que ajudem a reestruturar as dívidas" nos casos em que ainda seja viável. Na opinião do FMI, essas iniciativas devem incluir a implementação e monitorização de mecanismos extrajudiciais.
Apesar de o crédito ainda preocupar, bem como o impacto de alterações regulatórias, o Fundo Monetário está satisfeito com as medidas já tomadas e com a evolução do sistema bancário no último ano. "A melhoria dos resultados financeiros dos bancos em 2017 é encorajadora", conclui a entidade com sede em Washington.
Contenção salarial e muito mais investimento
"As autoridades devem ser cautelosas em relação a aumentos permanentes na despesa que possam reduzir a flexibilidade da despesa pública quando as condições cíclicas mudarem", reitera o FMI. Uma atenção que "é especialmente importante em relação a decisões que possam afetar a trajetória dos salários no estado nos próximos anos".
O FMI pede ainda, como sempre, mais reformas estruturais e um mercado laboral flexível, mas também mais investimento. Apesar de prever um aumento este ano (8,1%) e no próximo (5,1%), o FMI entende que "o investimento precisa de aumentar substancialmente para fazer subir o potencial da economia a médio prazo", sugerem os técnicos no relatório.
Dívida pública e desemprego podem descer mais rápido do que prevê o governo
Também na dívida pública, o cenário do FMI é mais favorável, com uma redução até 121,7% em vez dos 123,5% inscritos no OE2018. E para 2019 prevê mesmo uma descida até aos 118,4%. A organização insiste, no entanto, que o executivo deve aproveitar o bom momento da economia para acelerar a redução.
Em relação ao défice, o FMI tem para este ano a previsão alinhada com o governo em 1,1% do PIB, acreditando numa redução no final da legislatura para 0,9%.
A organização liderada por Christine Lagarde mantém as previsões de crescimento para 2018, de 2,2%, tal como o Governo e Comissão Europeia, mas para 2019 prevê uma desaceleração para 1,8% (menos uma décima do que Bruxelas e menos duas décimas do que previa em outubro).