Godinho vê "ligações perigosas" e "compadrio" no Montepio, mas espera que não se confirmem
O candidato à liderança da mutualista critica Tomás Correia, mas espera "que esteja inocente". E entende que este ano os funcionários do Montepio "estão a ser menos pressionados" para fazerem campanha
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"Aquilo que se percebe, para quem está de fora, é que, de facto, há ligações perigosas ou existiram ligações perigosas, e de alguma forma privilegiadas e de compadrio em que o Montepio se envolveu nos últimos 10 anos", afirma António Godinho, candidato às eleições para a Associação Mutualista Montepio, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo.
Esta semana, a RTP revelou documentos que alegadamente comprovam um esquema do Montepio , de 2013, para financiar o aumento de capital com dinheiro do próprio banco. Operação que, segundo a televisão pública, estará a ser investigada pelo Ministério Público e pelo Banco de Portugal.
Tomás Correia é ainda alvo de outros inquéritos do Banco de Portugal e do Ministério Público. No primeiro caso, está em causa o alegado incumprimento das regras prudenciais e de análise de crédito no banco Montepio, bem como a eventual falsificação de documentos. No caso do inquérito do Ministério Público, há suspeita de ter recebido comissões ilegais quando liderava o banco. O presidente da mutualista desmente qualquer irregularidade.
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António Godinho, que se candidata pela segunda vez à liderança da mutualista, reconhece que não sabe detalhes sobre estes casos, mas afirma estar triste e desiludido com o rol de suspeitas, que "não faz bem" ao Montepio.
O empresário diz ainda ver "com muita perplexidade" a "estratégia incompreensível de banca comercial" de Tomás Correia, que passaria pela concessão de crédito a projetos "em que os outros bancos não queriam estar por causa do risco".
"O Montepio não tinha necessidade, nem tem necessidade, de se envolver nestas ligações perigosas e noutros créditos, noutras aventuras", considera.
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António Godinho até admite que Tomás Correia possa não ter responsabilidade nestes casos, mas defende que a sucessão de suspeitas deveria obrigar o presidente da mutualista a abandonar o cargo. "Ele poderá estar inocente de tudo isto, não rejeito que possa estar inocente, e espero verdadeiramente que esteja, para bem dele e da Associação Mutualista", afirma. No entanto, "para defesa da Associação Mutualista", que tem mais de 600 mil associados, o empresário entende que Tomás Correia "deveria sair".
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O clima de pressão sobre os funcionários
António Godinho garante que nos mandatos de Tomás Correia tem havido um clima de pressão sobre funcionários do Montepio para fazerem campanha em favor da administração, mas o candidato reconhece que, "desta feita, os trabalhadores estão a ser menos pressionados".
"Existiu sempre um clima, não diria coação, mas obrigação de contactar associados para sugerir onde e como votar, em que lista votar, isso aconteceu no passado", acusa António Godinho.
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E as promoções de trabalhadores, garante, também têm dependido disso. "Aqueles funcionários que colaboraram ativamente [na campanha de Tomás Correia] têm preferência sobre os outros independentemente do mérito, do seu trabalho específico e das suas funções", lamenta.
A questão coloca-se depois de ter sido conhecida a decisão de Carlos Tavares sobre estas eleições. O líder da Caixa Económica Montepio, detida pela mutualista, impediu os funcionários de fazerem campanha nas instalações do banco ou quando estão em sua representação. António Godinho aplaude a medida.
Em todo o caso, apesar de sentir menos pressões sobre os funcionários, o candidato considera que o processo eleitoral no Montepio "não é transparente nem democrático" e dá um exemplo: "Não temos caderno eleitoral, não conseguimos contactar os nossos associados para apresentar as nossas ideias e o nosso programa. Só temos o nome e o número de associado".
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Esta é a última das três entrevistas feitas pela TSF e pelo Dinheiro Vivo durante o processo eleitoral, depois de Fernando Ribeiro Mendes e de Tomás Correia . As eleições na mutualista Montepio têm lugar a 7 de dezembro, de forma presencial, embora já decorra a votação por correspondência.