Juros da dívida e bolsas afetados por situação no Grupo Espírito Santo - analistas
Os analistas atribuem à situação que se vive no grupo Espírito Santo a subida que se verifica nos juros da dívida soberana de Portugal no mercado secundário, assim como o atual mau desempenho dos mercados europeus.
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Pode-se obviamente relacionar com a questão do Grupo Espírito Santo [GES], pela questão do risco sistémico que o mercado teme. Questiona-se até que ponto uma instituição financeira desta dimensão não pode ter repercussões na economia e afetar a qualidade do crédito do Estado», afirmou o analista da Fincor Albino Oliveira à Lusa.
Albino Oliveira disse que a situação, em Portugal, do GES a juntar à situação, em Espanha, da empresa Gowex, que reconheceu a falsidade das contas dos últimos quatro anos, está a pressionar os juros da dívida de todos os países da periferia do euro (Portugal e Espanha, mas também de Itália e Grécia), enquanto os juros da dívida de Alemanha e França descem.
Também analistas internacionais falam da pressão que a situação do grupo de que o BES faz parte está a ter sobre os mercados da periferia, tanto de obrigações como de ações, assim como da forma como está a abalar a confiança dos investidores na zona euro.
«Portugal está claramente a alimentar o declínio nos mercados», afirma Renaud Murail, manager do Barclays Bourse, citado pela AFP, que considerou que «os investidores estão a questionar a força do Banco Espírito Santo e o impacto que pode ter em todo o país».
«As preocupações sobre a saúde do Banco Espírito Santo têm prejudicado o sentimento do mercado, com as ações de bancos a perderem em toda a linha", disse, por seu lado, Fawad Razaqzada, da Forex.com.
Também para o analista Markus Huber, da corretora Peregrine e Falcon, «não há dúvida» de que as manchetes que o BES está a fazer hoje contribuem para a «queda forte nas ações portuguesas e de alguns outros países da periferia, como a Itália e Espanha". Ainda assim, considerou, nada indica para já que os problemas encontrados na ESI contagiem todo o sistema bancário português.
Sobre o efeito da situação no GES em específico nos juros da dívida de Portugal, Pedro Oliveira, operador de mercados do Banco Carregosa, diz à Lusa que «há realmente uma coincidência», já que «desde que os títulos do BES e da Portugal Telecom começaram a ser penalizados em bolsa que os juros da dívida têm tido subida significativa e aproximam-se agora dos 4% [no prazo a 10 anos]».
Para os analistas portugueses contactados pela Lusa, para regressar alguma tranquilidade ao mercado será preciso que tanto o BES como o Espírito Santo Financial Group (maior acionista do banco, com 25%) venham prestar esclarecimentos públicos.
Os juros da dívida portuguesa continuavam hoje a subir em todos os prazos, perto das 14:00, nomeadamente no prazo a 10 anos para os 3,926%.
Já o PSI20 estava a cair cerca de 4%, com todos os títulos no vermelho, já depois de suspensas as ações do BES e do ESFG. Os títulos do BES foram suspensos ao final da manhã de hoje pelo regulador do mercado, a CMVM, depois do Espírito Santo Financial Group (ESFG) ter pedido ao início da manhã a suspensão da negociação de ações e obrigações em Lisboa e no Luxemburgo.