Vítor Constâncio é ouvido pelos deputados na II Comissão Parlamentar de Inquérito à Recapitalização da CGD e à Gestão do Banco.
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A culpa foi da crise. Diz Vítor Constâncio que "as operações [da CGD] eram arriscadas, muito arriscadas, mas todas legais. "Não houve falsa contabilidade ou o registo de que tenham sido falsificados" documentos, argumentou.
"Podia não ter havido crise e correrem todas normalmente", considera o antigo governador do Banco de Portugal.
Ouvido pelos deputados na comissão parlamentar de inquérito à gestão do banco público, Vítor Constâncio atribuiu a "explosão" do crédito malparado à crise financeira em Portugal e não só.
"A explosão de crédito malparado em todos os bancos e em todos países europeus foi de duplicação dos níveis de crédito malparado. Não pode ter resultado de más práticas em todos os bancos da área do euro, resultou de uma crise que foi a maior desde 1929/1930."
É "fácil dizer a posteriori que isto devia ter sido evitado, mas não podia ser".
Mas já na altura havia alertas para as más práticas do banco, argumentam os deputados, como a carta do ex-administrador do banco Almerindo Marques enviada ao Banco de Portugal.
"Quando? Há 12 anos? Tanto papel que eu recebi, tanto relatório que eu li... Não faço ideia de quando foi ou se foi", alega Vítor Constâncio. "Não tenho obrigação de ter memória e recordação de todas as cartas que recebi, processos que vi, relatórios que li. É completamente impossível, por amor de Deus."
Questionado se se lembra de se ter reunido com Almerindo Marques, o ex-governador do regulador diz que não.
Segundo o Jornal Económico Vítor Constâncio "ignorou os alertas para falhas no controlo de risco de crédito na Caixa Geral de Depósitos que lhe foi transmitido por carta, em 2002, dirigida ao então governador do Banco de Portugal por Almerindo Marques, ex-administrador do banco público".
O ex-governador terá dito a Almerindo Marques "não ter recursos para mandar fazer uma auditoria; que não era oportuno fazê-la ao maior banco do sistema, um banco público; e que não era conveniente uma auditoria com base numa denúncia de um membro do Conselho de Administração, pois não havia razões para justificar".
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