Uma manhã marcada pelo protesto, com um cordão humano em frente a hipermercados da cidade e com vários produtores a fazerem contas aos prejuízos que alegam ter tido nas últimas décadas.
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A marcha lenta dos produtores de leite e de carne terminou em frente à Câmara Municipal de Estarreja e os produtores foram recebidos pelo vice-presidente da autarquia a quem entregaram a lista de reclamações e necessidades do setor para fazer chegar junto do governo.
Mais de uma centena de produtores de leite e de carne deram as mãos na estrada nacional 109. Um cordão humano de protesto. "Tem um significado simbólico. Fechámos com um cadeado humano e de tratores, simbolicamente, a entrada destes supermercados, porque as grandes superfícies estão a aplicar uma ditadura comercial aos bens agroalimentares, sobretudo leite e carne, que são os produtos chamarizes e que estão normalmente em promoção", realça João Dinis, da Confederação Nacional de Agricultura (CNA).
O dirigente reconhece que as medidas propostas pelo Governo são um sinal positivo, mas algumas são contraditórias. "Vai haver uma ajuda financeira para quem reduzir a produção de leite. Dá jeito na situação difícil em que estamos, mas por outro lado o país é que perde porque deixa de produzir"
Pela gravidade da situação, o dirigente apela à intervenção do Presidente da República. "Quando é que o senhor presidente da República tem uma palavra a dizer contra a ditadura das grandes superfícies comerciais, o abuso das marcas brancas e das promoções, que esganam a produção nacional".
Diz a CNA que o preço pago pelo leite ao produtor baixou 14 cêntimos em ano e meio... António Valente, produtor na Válega, faz as contas aos últimos 20 anos. "Há 20 anos recebia o leite a 30 cêntimos o litro. Neste momento recebo a 0,25euro, por isso estou a perder dinheiro. Há 20 anos pagava a ração ao quilo a 0,21 cêntimos, neste momento pago a 0,41euro. Estou a pagar para produzir".
Quanto à luta de hoje, o produtor acha que não foi em vão. "Vale sempre a pena protestar. Quem cala consente. Vale sempre a pena vir a público, para mostrar que somos alguém. Eles querem colocar-nos o pé no pescoço, mas não vamos permitir isso", adianta.
Os produtores aplaudem a intenção do governo em tomar medidas, mas querem saber quando vem o dinheiro, até porque, dizem, "as vacas precisam de comer já amanhã".