Centrais sindicais juntam-se: há "disponibilidade" para reunir com CIP, que "não fala em nome do Governo"

Carlos Carneiro
Autores: Cláudia Alves Mendes e Manuel Acácio
Depois da CGTP, que admitiu esta sexta-feira na TSF "disponibilidade" para responder positivamente ao desafio lançado pela Confederação Empresarial de Portugal (Cip) para um encontro entre patrões e sindicatos, com a condição de que exigissem a retirada do pacote laboral, é a vez da UGT se pronunciar. No Fórum TSF sexta-feira, o secretário-geral adjunto da UGT, Sérgio Monte, vinca que a central sindical tem uma "matriz negocial" e, por isso, "está sempre disponível para reunir, discutir, dialogar e, se possível, chegar a consenso". Ainda assim, confessa não saber "se o senhor presidente da Cip fala em nome do Governo".
"Quando aqui há uns tempos dissemos que iríamos reunir com as confederações patronais, foi-nos dito perentoriamente que poderíamos reunir, poderíamos até chegar a acordo, mas que não nos esquecêssemos que o Governo era parte e queria ver as suas propostas contempladas", destaca.
Sobre isto, Arménio Carlos, que era secretário-geral da CGTP na greve geral de 2013 que juntou as duas centrais sindicais, reforça que o Executivo "não tem outra alternativa que não seja retomar as negociações e retirar a proposta". Apela, contudo, para que este processo seja iniciado de "forma transparente e objetiva".
"Porque, muito provavelmente, aquilo que irá acontecer é o Governo anunciar o reinício das negociações e, posteriormente, apresentar uma proposta que exclui algumas medidas que anunciou para manter aquilo que, para ele, é o essencial. Ou seja, mexer nalguma coisa para manter aquilo que é essencial", denuncia.
Já o antigo secretário-geral da UGT Carlos Silva avisa que tentar "minimizar" a greve geral é um "erro de monta". E, por isso, considera que o Governo, ao ter declarado que a paralisação foi "inexpressiva", provou ao país que está "encerrado no seu casulo e não vê o que se passa à sua volta".
"Nós percebemos que o Governo tem uma obstinação. Sem qualquer fator externo a pressionar, é uma decisão exclusiva do Governo de avançar com este pacote laboral e, portanto, esta questão de acusar a adesão à greve geral de ser inexpressiva não lhe fica bem", sublinha.
Carlos Silva aconselha, assim, o Executivo liderado por Luís Montenegro a deixar cair a "intransigência" que assume ao definir "linhas vermelhas" na negociação. "São as propostas mais gravosas que o movimento sindical dos trabalhadores nunca poderá aceitar. Estas traves mestras não têm alternativa", assinala.
O que está em causa, diz, não é um "recuo ideológico, nem é uma teimosia das centrais sindicais". Antes, trata-se de uma "questão essencial para a negociação coletiva e para os direitos dos trabalhadores". Para assegurá-los, não resta outra opção se não o recuo na proposta à revisão laboral apresentada pelo Governo.
Por outro lado, Francisco Van Zeller, antigo dirigente da Confederação Empresarial de Portugal (Cip), refere que a lei "ainda nem sequer existe". E defende que a greve geral demonstrou uma insatisfação que é "genérica", dado que ainda proposta definitiva, porque há negociações em curso.
"Alguns bocados que eles apanharam da lei, atiraram cá para fora, para a rua, para as pessoas se revoltarem. Agora na concertação social, não é assim", garante.
É com este argumento que entende que a negociação vai começar "agora", proporcionada por um "ambiente e numa solenidade" que não se encontram "na rua nem o Parlamento", mas somente em sede de concertação social.
"Na concertação social, há advogados, gente que conhece muito bem o que é que se está a falar, as palavras e os textos, os prazos", aponta.
