Assinatura de memorandos de entendimento e protocolos de parceira deram corpo ao segundo dia da visita oficial do primeiro-ministro à China.
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A diplomacia económica vive de dias como o que António Costa cumpriu ontem em Pequim. Manhã fechado num hotel, para pequeno-almoço e reuniões com empresários, uma palestra numa universidade sobre o peso da língua portuguesa no mundo, uma breve passagem por um festival de cinema português - uma estreia absoluta na China -, e por fim o regresso ao Palácio do Povo, para um encontro com o primeiro-ministro chinês.
Não que esse ato final tenha sido meramente político, afinal foi na presença dos dois primeiros-ministros que ficou assinada boa parte dos protocolos e memorandos de entendimento que dão corpo a esta visita.
A declaração conjunta de António Costa e Li Keqiang ficou marcada por mais um agradecimento de Portugal à China, com o primeiro-ministro português a afirmar que o "nível de relacionamento político entre os dois países é excelente, e não havia melhor forma de o provar do que o apoio firme que a China deu à eleição do engenheiro António Guterres como próximo secretário-geral das Nações Unidas". É algo que António Costa não se cansa de fazer.
Voltando ao que vai ficar para a história desta visita oficial, António Costa diz que uma outra prova da excelência das relações entre a China e Portugal é o acordo de cooperação trilateral. Numa frase, Costa define o acordo desta forma: "juntar os nossos saberes, as nossas forças, para podermos fazer melhor aquilo que separadamente teríamos necessariamente de fazer pior".
Os primeiros passos desse acordo aconteceram ontem, no Palácio do Povo, com a assinatura de protocolos de cooperação e memorandos de entendimento. A China Three Gorges e a EDP, por exemplo, vão passar a ter um mapa comum para investimentos nos países de expressão portuguesa em África. A ideia é juntar o poder financeiro e tecnológico da China à facilidade de contacto, ao património histórico de Portugal no relacionamento com os Palop. Amanhã, em Macau, decorre o quinto Fórum Económico de Macau com os Países de Língua Oficial Portuguesa, lá palco ideal para insistir neste rumo. António Costa sublinhou ontem em Pequim que "Macau continua a ser a ponte de relacionamento da China com os Palop".
Outro ponto desta visita passa pela vontade portuguesa em diversificar a relação económica com a China, passando da fase em que o capital chinês se limitava a comprar ativos e participações em empresas portuguesas, para uma nova fase em que, espera o executivo de Lisboa, passe a haver investimento reprodutivo e criação de emprego. Aí há duas áreas que surgem quase como moeda de troca. A China compromete-se a aligeirar as barreiras à entrada de produtos portugueses do setor agro-alimentar - sobretudo carne de porco e laticínios -, e Portugal promete ajudar a reforçar parcerias na indústria automóvel, em especial na área dos moldes e no fabrico de outros componentes.
Quando se fala de investimento com potenciais investidores estrangeiros, e sobretudo quando se está ao lado de um primeiro-ministro de um país em que o Estado tem mão forte na economia e tem capacidade de decidir onde investir ou não investir, convém dizer qualquer coisa sobre impostos. A pergunta partiu de um jornalista português, e apesar de na véspera ter prometido não falar de Orçamento do Estado enquanto estivesse na China, António Costa deixou uma firme promessa de manter a estabilidade fiscal em Portugal. Mais, o primeiro-ministro comprometeu-se a "assegurar um quadro de estabilidade na tributação da área empresarial, visto que a única alteração foi a redução do IVA para a restauração, e não está previsto qualquer tipo de aumento da tributação sobre as empresas". Mesmo através do intérprete, nada se perdeu na tradução e foi audível o respirar de alívio de Li Keqiang.
A passagem de António Costa pela China continua em passo acelerado. Hoje há nova dose em Xangai, com a manhã e parte da tarde passadas dentro de um hotel, a ouvir empresários e investidores. A aposta parece firme e quer responsáveis políticos, quer empresários dos dois países, dizem que faz todo o sentido. No fundo, trata-se de usar as ferramentas específicas de cada país para potenciar o papel de ambos no palco dos negócios à escala global.