De Leiria para Hollywood. Empresa que trabalhou som de Star Wars e Game of Thrones vai lançar auscultadores imersivos
Depois de se ter tornado uma referência no tratamento do som para grandes estúdios de cinema como a Warner Bros, Paramount e Disney, a portuguesa Sound Particles prepara-se para lançar auscultadores com tecnologia 3D.
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São poucos os filmes e séries de sucesso global dos últimos anos que não usaram a tecnologia da empresa portuguesa Sound Particles no som. A lista já vai longa: Star Wars, Game Of Thrones, Stranger Things, Dune, Missão Impossível, Indiana Jones, Oppenheimer e Barbie são só alguns. O próximo passo será lançar, já em 2024, auscultadores imersivos.
"Estamos a criar a nossa tecnologia de som 3D com auscultadores para que pessoas com headphones perfeitamente normais possam ter uma experiência completamente imersiva e perceber o som vindo de todas as direções. Já existem algumas soluções no mercado, inclusivamente da Apple, mas todas elas ainda deixam um bocado a desejar porque é um problema muito complexo. Cada pessoa tem orelhas diferentes, com formas diferentes e o nosso cérebro foi treinado para reconhecer a assinatura acústica das nossas orelhas, ou seja, se quiser realmente enganar o cérebro daquela pessoa tenho de ver como é que é a orelha dela para saber como é que vou enganar o cérebro. Foram feitos mais de cem doutoramentos nessa área e ainda ninguém conseguiu resolver completamente. No entanto, no nosso caso, neste momento já temos testes que nos indicam claramente que a nossa solução funciona muito melhor do que qualquer uma dessas da concorrência e estamos a dar os retoques finais", revelou à TSF Nuno Fonseca, CEO da Sound Particles.
Para já não querem associar-se a nenhuma marca em particular, mas admitem que algumas possam querer ter esse tipo de tecnologia nos seus ascultadores.
"Para isso contamos licenciar a nossa tecnologia, mas a nossa ideia é que seja algo muito mais democrático e que qualquer pessoa possa usufruir do som mesmo que não tenha headphones de determinada marca", explicou o CEO.
O caminho até às maiores produções de cinema de Hollywood
Nuno Fonseca sempre teve duas paixões: o som e a informática. E dividia-se entre elas nas aulas de informática que dava no Politécnico de Leiria e as aulas de tecnologia da música na Escola Superior de Música de Lisboa. Há sete anos decidiu juntar estas duas paixões num software que pudesse ser usado nas grandes produções de cinema. Daí nasceu a Sound Particles.
"Começou com uma ideia muito maluca de querer arranjar um programa que pudesse criar milhares de sons ao mesmo tempo e assim foi. Foi um projeto um bocado de tempos livres que foi crescendo. Até que a dada altura fui a Los Angeles. Antes de ir a Los Angeles mandei e-mails para cinco ou seis pessoas da indústria a dizer que trabalhava nesta área e que isto podia ser interessante para grandes produções. A primeira resposta que tivemos foi do Skywalker Sound, que me convidou a ir fazer uma palestra lá e no espaço de seis meses acabei por dar palestras na Warner Brothers, Universal, Paramount, Sony, Fox e mais tarde na Disney, Pixar, Apple e Google, entre muitos outros sítios", recordou.
O software revolucionou a indústria por permitir fazer em dez minutos o que antes, na área do som, se fazia em oito horas.
"Essencialmente o que fizemos foi criar, no som, o equivalente a computação gráfica, ou seja, da mesma forma que com a computação gráfica fazemos simulações de mundos para fazer animação e efeitos especiais, aqui utilizámos esse poder da computação gráfica para o som. Se quiser criar uma batalha, em vez de agarrar num editor de som e começar a pôr uma explosão, outra explosão, um tiro, outro tiro e, passadas oito horas, tenho 50 sons a tocar ao mesmo tempo, com o nosso software a pessoa consegue em dez minutos dizer que quer dez mil sons espalhados por um quilómetro quadrado, importar 400 sons de guerra e em dez minutos ter 50 sons em vez de dez que demoravam oito horas", afirmou Nuno Fonseca.
Já são muitos os filmes e videojogos que recorrem à tecnologia da Sound Particles, mas para Nuno Fonseca o projeto mais especial até agora é "obviamente o Star Wars".
"Ainda por cima quando eles utilizaram a Sound Particles no oitavo filme não nos deram permissão para divulgar, mas depois no nono já nos deram permissão. Foi um projeto que teve um sabor especial", confessa o CEO.
Neste momento já têm duas pessoas a trabalhar fora de Portugal a tempo inteiro. Uma em Londres e outra em Los Angeles. Algo que lhes permite ter um contacto ainda mais próximo com os grandes estúdios de cinema e videojogos.
"A utilização do nosso software no Oppenheimer foi possível porque o Richard King, sound designer que já ganhou quatro Óscares, queria utilizar o Sound Particles para o Oppenheimer, mas precisava que alguém lhe desse umas dicas de como utilizar o software. Como temos lá alguém dissemos que no dia seguinte à tarde íamos lá fazer uma apresentação do software. Tudo isso torna as coisas muito mais fáceis", acrescentou.