Inteligência artificial generativa pode ter impacto de 15 mil milhões de euros em Portugal
Um estudo da Public First indica que a inteligência artificial generativa pode poupar, em média, mais de 80 horas por ano a cada trabalhador, o que equivale a duas semanas de trabalho.
Corpo do artigo
A inteligência artificial (IA) generativa "poderá aumentar a dimensão da economia portuguesa em 15.000 milhões de euros", o equivalente a 6% do Produto Interno Bruto (PIB), revela um estudo da Public First encomendado pela Google esta terça-feira divulgado.
De acordo com o relatório, a IA generativa (capaz de gerar texto, imagens e vídeo) "poderá aumentar a dimensão da economia portuguesa em 15.000 milhões de euros (ou o equivalente a 8% do Valor Acrescentado Bruto ou 6% do Produto Interno Bruto) e poupar, em média, mais de 80 horas por ano a cada trabalhador - o equivalente a duas semanas de trabalho".
TSF\audio\2023\10\noticias\24\rui_tukayana_inteligencia_artificial
Além disso, "ao ajudar todos em Portugal a concentrarem-se em tarefas mais produtivas e criativas, a IA pode acelerar o crescimento económico e, por sua vez, trazer progressos nos desafios sociais", lê-se no comento.
O estudo da Públic First "mostra que 86% dos trabalhadores em Portugal pensam que as ferramentas generativas de IA irão ajudá-los a ser mais produtivos, sendo que este valor sobe para 91% por parte dos trabalhadores de escritório".
A implementação da IA nas empresas "para ajudar na monitorização preventiva dos riscos e na melhoria das competências dos trabalhadores em matéria de cibersegurança, Portugal poderia mitigar 690 milhões de euros de riscos de cibersegurança", conclui o estudo.
Sobre a pesquisa e os anúncios da Google, o relatório aponta que estas ferramentas "apoiaram em 400 milhões de euros" as exportações para a economia portuguesa no último ano", estimando-se ainda que os serviços da tecnológica "estão a produzir uma melhoria de 11.600 milhões de euros na produtividade dos trabalhadores".
No total, aponta o estudo, "a Google contribuiu para a criação de mais de 86.000 empregos locais no ano passado em empresas terceirizadas".
O presidente do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento em Lisboa (INESC) e professor do Instituto Superior Técnico (IST), Arlindo Oliveira, coloca um pouco de água na fervura nestas conclusões do estudo da Google sobre o impacto que a inteligência artificial generativa pode ter na economia portugueas. Reconhece que o potencial desta ferramenta é grande, mas sublinha que estes estudos têm sempre uma componente abstrata, uma vez que dependem de vários fatores.
"Esses estudos são sempre muito especulativos. Não necessariamente um exagero, mas são feitos numa grande incerteza. É muito difícil saber se as pessoas vão adotar ou não, se adotarem quais são os ganhos reais, etc. Extrapolam a partir de casos particulares, mas é muito difícil fazer essa extrapolação para o caso geral. É certo que a inteligência artificial generativa tem potencial para aumentar significativamente a produtividade em algumas funções. Seis por cento do PIB a prazo não me parece um valor impossível, mas também não colocaria muito valor nessa estimativa porque é muito sujeita a erros de avaliação", explicou à TSF Arlindo Oliveira.
TSF\audio\2023\10\noticias\24\arlindo_oliveira_1_especulativo
Para o presidente do INESC, a inteligência artificial generativa não nos vai colocar a crescer ao nível da Alemanha nem levar a um desemprego em massa.
"Há outro risco de se pensar se não vai criar crescimento em massa em determinados setores onde a substituição pode ser maciça. É verdade que alguns setores, como por exemplo o serviço ao cliente, poderão ser maciçamente automatizados, mas acho que temos tanta falta de recursos humanos em geral que esse medo é exagerado. Cinco por cento, se tudo correr bem, conseguimos crescer em dois anos. Esta tecnologia permitir-nos-ia talvez antecipar em dois anos o crescimento, mas não mais do que isso. Não estamos a falar de um milagre que de repente vai tornar a economia portuguesa ao nível da economia alemã", alertou o professor do IST.
De acordo com o relatório, em Portugal "83% das pessoas dizem apoiar a utilização de ferramentas de IA para ajudar as pessoas/governos a reduzir os riscos que enfrentam devido a fenómenos meteorológicos extremos, por exemplo, incêndios florestais, inundações, ondas de calor", entre outros, com 80% a defender esta ferramenta para reduzir as emissões de carbono através da gestão da utilização de energia.
Mais de metade (58%) apoiam o uso de IA para eliminar tarefas monótonas no trabalho e dois terços para as ajudar a fazer escolhas mais sustentáveis em termos ambientais.
"Desde 2016, formámos mais de 135.000 pessoas em Portugal em competências digitais através do Atelier Digital e trabalhámos com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) para disponibilizar dois milhões de euros em créditos para investigações em IA", refere a a Google, que acrescenta que distribuiu "6.000 certificados profissionais, em colaboração com a APDC, em cursos como UX, IT Support, project management, e outros".