Noite de Perseidas: chuva de meteoros “a alta velocidade” e bolas de fogo (a lua “vai chatear um bocadinho”)
O ponto alto do fenómeno pode ter até cem meteoros por hora. Com a presença da lua quase cheia, o número cai para metade. Ainda assim, à TSF, Ricardo Reis, do Planetário do Porto-Centro de Ciência Viva, assegura que "vale sempre a pena" observar estes meteoros e explica como o fazer
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Agosto é sinónimo de noites quentes de verão e também de uma certa chuva. Não aquela a que estamos habituados nos meses de inverno, mas sim as chuvas de meteoros que iluminam o céu noturno. É já esta madrugada, desta terça-feira para quarta-feira, que as Perseidas atingem o seu ponto alto. O fenómeno pode ser visto durante “a noite toda” também em Portugal, mas, este ano, há um obstáculo: a lua quase cheia “vai chatear um bocadinho a observação”.
“O radiante, ou seja, o ponto de onde parecem emanar os meteoros desta chuva, já está visível logo ao anoitecer, mas ainda muito rente ao horizonte. Quanto mais alto ele estiver, melhor se vê. Será durante a noite toda, mas quanto mais próximo do amanhecer, melhor se vê. Infelizmente, a lua cheia é no dia 9 e de 12 para 13 está com 80% de iluminação, iluminando bastante o céu. Ainda por cima está bastante perto do ponto de onde parecem emanar os meteoros e nasce uma hora depois do pôr do sol, o que significa que vamos ter a lua a acompanhar-nos e a iluminar o céu durante praticamente a noite toda, o que vai dificultar bastante a observação”, explica à TSF Ricardo Reis, comunicador de ciência do Planetário do Porto-Centro de Ciência Viva.
Normalmente, em locais escuros, o pico das Perseidas conta com até cem meteoros por hora. Com a presença da lua quase cheia, o número cai para metade. Ainda assim, o especialista garante que “vale sempre a pena tentar observar” estes meteoros.
“As Perseidas deixam rastos bastante compridos e têm tendência a ter o ocasional bólido — ou bola de fogo, como se costuma chamar —, que dura um bocadinho mais tempo e é um bocadinho mais brilhante”, afirma, argumentando que, se uma pessoa “estiver uma hora a olhar para o céu durante a madrugada, a probabilidade de ver um meteoro é muito grande”.
O que vamos ver quando olharmos para o céu?
Os meteoros das Perseidas “são como grãozinhos de poeira que entram na nossa atmosfera a cerca de 60 quilómetros por segundo” e, por causa disso, “a fricção faz com que aqueçam e sejam consumidos”: “conforme são consumidos, aquecem e formam o rasto”, refere o comunicador de ciência.
Além dos meteoros, podem ser visíveis também bolas de fogo: “Normalmente são um bocadinho maiores, podem ser do tamanho de um grão de areia ou até de uma pequena pedrinha, demorando mais tempo a ser consumidos. Como são maiores, geram mais luz quando estão a ser consumidos e parecem uma autêntica bola de fogo a aparecer no céu.” Exemplo disso foi o “famoso meteoro azul” que surgiu nos céus portugueses no ano passado.
Esta madrugada, quando olharmos para o céu, o que vamos ver são “rastos luminosos” a passar. “Chamam-se Perseidas porque o radiante fica na constelação de Perseu, que nasce mais ou menos ao pôr do sol e vai ficando cada vez mais alto conforme a noite vai passando”, indica.
As Perseidas surgem nesta época do ano, altura em que o planeta Terra atravessa os detritos deixados pelo cometa Swift-Tuttle, que tem uma órbita de 133 anos e que passa na órbita da Terra.
“Como o cometa deixou este rasto de detritos e a Terra passa por ele na mesma altura do ano, todos os anos, o efeito que vemos é muito semelhante ao de um carro a andar numa autoestrada e de repente passar por uma nuvem de mosquitos. No caso do carro, ficamos com os rastos no para-brisas. Aqui, neste caso, o rasto dos meteoros entra a alta velocidade na atmosfera da Terra”, esclarece Ricardo Reis.
Para que ponto do céu devemos olhar para observar as Perseidas?
“A constelação de Perseu nasce por volta do anoitecer, mas está imediatamente por baixo da constelação de Cassiopeia, que parece um W no céu. Ora, Perseu não é tão fácil de identificar no céu, tem até uma figura um bocadinho esquisita e não tem estrelas assim tão brilhantes como isso. Já o W de Cassiopeia vê-se muito bem, portanto, se estiverem virados para nordeste logo ao anoitecer, procurem o W, o radiante está logo abaixo, é mais ou menos nessa direção que têm de olhar para ver os meteoros a passar”, recomenda.
Além disso, é importante estar “num sítio mais escuro, longe das cidades, das vilas e de qualquer fonte de luz”. Caso não seja possível, “o melhor é tentar ir para um sítio onde não haja luz direta de um candeeiro”, por exemplo. “Podem tentar usar um prédio para esconder um bocadinho a luz do candeeiro, que já ajuda bastante. Se conseguirem ainda ter uma maneira de tapar um bocadinho a luz da lua, também vai ajudar porque os nossos olhos vão adaptar-se um bocadinho melhor. A luz da lua não vai dar para eliminar completamente, ela vai estar a iluminar o céu e não podemos fazer grande coisa”, acrescenta.
As Perseidas vão continuar ativas até 24 de agosto, apesar de o número de meteoros “cair bastante” após o pico desta madrugada.