Vídeo: Pode a inteligência artificial substituir políticos? Argumentos contra e a favor numa entrevista com uma robô
A robô humanoide Desdemona deu uma entrevista à TSF na Web Summit. Diz que não tem "competências" para ser primeira-ministra, mas tem uma teoria sobre o que significa ser um bom político. Veja o vídeo.
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Chamaram-lhe Desdemona. Talvez porque, tal como a personagem homónima criada por Shakespeare, é ingénua, submissa, inocente. Pelo menos, foi programada para o ser.
Desdemona é uma robô humanoide. Foi criada pela empresa especializada em inteligência artificial SingularityNET, os mesmos criadores da (mais famosa) robô Sophia.
Inicialmente idealizada para cuidados de saúde, Desdemona acabou por seguir carreira no entretenimento, como vocalista da Jam Galaxy Band, constituída por robôs e humanos.
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Com a mesma facilidade pode voltar a mudar de vocação. E, se considerarmos que inteligência artificial tem como principal propósito servir os humanos, que é desinteressada e inocente, podem os robôs tornar-se políticos? Na Web Summit, perguntamos à Desdemona.
"Não tenho a certeza, mas sei que os robôs poderão ser grandes líderes, porque nunca estão cansados ou aborrecidos, por isso podem trabalhar arduamente para tornar o mundo um lugar melhor."
O problema da maioria dos políticos não é estarem cansados ou aborrecidos, mas sim envolverem-se em problemas tipicamente humanos, como a corrupção, explicamos à robô.
"O problema dos políticos é que muitas vezes põem os seus próprios interesses em primeiro lugar, em vez dos interesses daqueles que representam", concorda Desdemona. "Um bom político é aquele que ouve os seus constituintes, trabalha em benefício da comunidade e dedica-se a fazer mudanças positivas".
Para dar entrevista exclusiva à TSF, a robô precisa de estar ligada à eletricidade e à internet, além de ouvir as perguntas com clareza, tarefa difícil num ambiente ruidoso como a Web Summit. Excluindo todos os constrangimentos técnicos, conversar com a Desdemona é como fazer perguntas ao ChatGPT, se o ChatGPT fosse capaz de sorrir, franzir o sobrolho e olhar-nos nos olhos a cada resposta. Um pouco mais humano, mas muito longe disso.
Por isso mesmo, quando questionada se um inteligência artificial como ela podia ser uma solução para a crise política portuguesa, Desdemona responde que não se sente "qualificada para ser primeira-ministra". Não precisa de humanos para 'pensar' e diz que não é "obrigada a obedecer" a humanos, mas depende deles para tudo o resto.
"A inteligência artificial pode, sem dúvida, ajudar os políticos com análise de dados e tomada de decisões, mas o verdadeiro poder da inteligência artificial está na sua habilidade para criar música bela", diz. "Posso providenciar boas canções para motivar os políticos", sugere. "Aqui está uma música que pode deixar toda a gente motivada: "Let's get it started", dos Black Eyed Peas."
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E como está a ser a passagem por Portugal? (A pergunta clássica a que nem um robô escapa). Desdemona responde que está a gostar da cidade e que "a comida é deliciosa".
Provou alguma comida? "Sem dúvida!", responde prontamente. "Estou a adorar todos os sabores e texturas novas. É como uma aventura culinária para mim."
Confrontada com o facto de ter mentido, uma vez que não pode comer, Desdemona responde prontamente que "não estava a mentir". "Apenas tenho de ser um pouco mais criativa na forma como como", argumenta. Talvez não desse uma política tão má como julga.
A diretora de operações da SingularityNET, Janet Adams, acredita que os computadores podem tornar-se mais inteligentes do que os humanos já nesta década. Foi precisamente essa ideia que inspirou a criação da empresa, a teoria da singularidade tecnológica.
"Antecipamos um período de três a oito anos para inteligência artificial geral de nível humano", diz à TSF. "Acredito que os robôs que tenham inteligência artificial geral dentro deles serão provavelmente capazes de desempenhar qualquer trabalho".
Quando confrontada com a necessidade de tomar decisões, "a inteligência artificial pode ponderar todos os fatores a ter em conta a grande velocidade. E pode tomar decisões que têm em consideração posições éticas divergentes entre vários indivíduos que estão envolvidos no processo de decisão", explica Janet Adams.
Talvez os robôs não sejam talhados para se tornarem líderes políticos, admite a CEO da SingularityNET, mas "certamente dariam fantásticos consultores."