É conhecido internacionalmente como "Sua Alteza", apesar de não ser um chefe de Estado. Quem é o homem que está por estes dias por Lisboa, traz consigo cerca de 50 mil pessoas e promete investir muito dinheiro em Portugal?
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"Sua Alteza o príncipe Karim Aga Khan". É assim que normalmente é apresentado Karim Al Hussaini, nascido e criado em Genebra, na Suíça e a quem a coroa britânica concedeu o título de príncipe. Ele que já tinha herdado da família o nome de Aga Khan IV, um título hereditário que percorreu quatro gerações e que o avô fez questão de lhe conceder quando tinha apenas 20 anos e ainda estudava na Universidade de Harvard.
A vida de playboy do filho de Aga Khan III, levou, à época, o Imã a escolher o neto como sucessor. A tarefa era herculea, sobretudo para alguém tão novo: liderar os mais de 15 milhões de islâmicos e gerir um patrimínio de milhões, mas ainda assim, foi isso que ficou escrito em testamento. E assim, há 60 anos, Karim Al Hussaini transformou-se em Aga Khan IV, hoje com 81 anos de idade.
A vida pessoal de um líder mundial
Karim é filho do primeiro casamento do pai, com Joan Barbara Guinness. Passou grande parte da sua infância no Quénia e, quando foi nomeado Imã, estudava na Universidade de Harvard, praticava esqui profissional e chegou mesmo a representar o Irão nos Jogos Olímpicos de 1964.
Casou-se pela primeira vez em 1969, um ano depois de se ter apaixonado pela modelo Sally Chrichto. Do casamento nasceram três filhos: Zahra, Rahim e Hussain. A união durou 25 anos.
Um ano depois, Aga Khan viria a casar-se com a princesa Gabriele zu Leiningen da qual teve um filho, Aly Muhammad.
Apesar de zelar para que a vida privada se mantivesse assim, privada, a longa batalha judicial com a segunda mulher, devido ao divórcio, foi merecedora de uma enorme atenção mediática, sobretudo pelo montante que Aga Khan teve de pagar à ex-mulher. A alegada traição terá custado qualquer coisa como 60 milhões ao príncipe.
Os milhões que recebeu dos antepassados e que continuam a crescer
Milhões é uma linguagem que Aga Khan conhece bem. Conhecido por ser um homem rico e poderoso, o imã tem uma fortuna avaliada em 800 milhões de euros pela revista Forbes, em 2008, o que o coloca como o 11.º membro da realeza mais rico do mundo.
A maioria da fortuna chegou-lhe às mãos vinda dos antepassados, tendo em conta essencialmente os donativos feitos desde há muitos anos aos líderes espirituais.
Para se ter uma ideia, no tempo em que o avô de Karim Al Hussaini era Imã, houve várias cerimónias em que a presença dos fiéis implicava a oferta de metais e pedras preciosas equivalentes ao peso do líder espiritual.
As doações viriam a ser alteradas por completo há dez anos, quando Aga Khan decidiu que os fiéis deveriam oferecer tempo e conhecimento à fundação em vez de bens materiais. Porém, os islamaelitas continuam a doar 10 a 12% do que ganham ao Imamato.
Não se pode dizer que Aga Khan seja propriamente um homem de negócios, mas não abre mão de dois que têm já uma longa tradição: a criação de cavalos e organização de corridas.
A fundação Aga Khan pelo mundo (e em Portugal)
A rede Aga Khan (AKDN) é a grande marca da sua liderança. Com o propósito do desenvolvimento económico, social e cultural, está presente em 30 países, emprega cerca de 80 mil pessoas, conta com mais de nove mil construções, desde hospitais, a escolas, redes de águas e fábricas, e presta cuidados de saúde a mais de cinco milhões de pessoas.
A AKDN está presente também em Portugal, nomeadamente no bairro da Curraleira, onde a organização tem assistido e fomentado um crescimento sustentado da comunidade. A TSF foi conhecer a realidade de um lugar onde "devagar se vai ao longe".
A fundação conta com um orçamento anual entre os 600 e 900 milhões de euros e o lucro vem apenas da vertente económica onde, só no ano passado, os registos da receita rondaram os 3,5 mil milhões de euros.
O Imã garante que estes valores são reinvestidos noutros projetos de desenvolvimento para que o apoio à comunidade não falte.
As regalias dadas a Aga Khan em Portugal
Em Portugal o Imanato beneficia de um regime fiscal especial que foi assinado em 2015,já a pensar na sede que vai ser inaugurada em Lisboa esta semana.
À semelhança do que acontece com outras instituições religiosas, os donativos e legados feitos pelo Imamat Ismaili ou pelo Imã, assim como os rendimentos, não estão sujeitos a impostos sobre rendimentos ou património. O Imanato está ainda isento do pagamento de IMI, de imposto de selo e de impostos sobre transações de aquisições de bens.