Em Filadélfia, Mário David afirma à TSF que Trump "deixa-nos a todos preocupados". Ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus compara possível eleição do milionário a uma vitória de Marine Le Pen.
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Não é a primeira vez que Mário David participa numa convenção do Partido Democrata. O antigo eurodeputado do PSD recorda que, já em 2008, em Denver, marcou presença no encontro em que Barack Obama via aprovada pelos delegados, e pela primeira vez, a nomeação para candidato do partido às eleições presidenciais.
"Julgo que o ambiente, aí sim, era muito especial, apesar de esta ser a primeira vez que indigitaram uma mulher como candidata, mas julgo que o ambiente era bem diferente, havia, talvez, bem mais unidade do que aqui", conta à TSF o ex-vice presidente do Partido Popular Europeu.
Apelo à unidade é o que não tem faltado durante a convenção - como se ouviu de viva voz, no terceiro dia de convenção, por parte do presidente dos EUA, Barack Obama -, apesar dos vários protestos realizados pelos apoiantes de Bernie Sanders. Mário David acredita que, ainda assim, os democratas vão sair do encontro mais unidos.
"O partido vai, efetivamente estar unido, porque o drama e o problema que seria, não só para a América, mas para todo o mundo democrata, uma liderança de Donald Trump, vai, obviamente, juntar não só os democratas, mas também uma grande franja dos republicanos, que não se podem rever nos disparates que aquele cavalheiro diz", espera o ex-secretário de Estado dos Assuntos Europeus.
Para o antigo eurodeputado, não há dúvidas, em tantos anos de eleições, nunca os norte-americanos correram tantos riscos com uma candidatura republicana.
"Aquilo que me preocupa mais neste momento, com a experiência de observar ao longo de todos este anos a política interna americana é que, em outras eleições era uma questão de ideologia e não havia perigo de ser eleito um candidato republicano - embora eu preferisse a eleição de um candidato democrata -, desta vez, julgo que há um perigo real, porque a personalidade do senhor Trump deixa-nos a todos preocupados"
E, Mário David dá até um exemplo a nível europeu, considerando que eleger o milionário seria semelhante a uma vitória, em França, da presidente da Frente Nacional: "Era a mesma coisa que, de repente, estar à beira de ser nomeada a senhora Le Pen. Quando isso aconteceu com o pai [Jean-Marie Le Pen], que foi à segunda volta com Jacques Chirac, todas as forças se juntaram, independente das suas filiações, contra aquele senhor".
A pouco ais de três meses das eleições, as últimas sondagens, têm apontado para um maior equilíbrio entre as duas candidaturas. Algo que, entende o antigo vice-presidente do PPE, é preciso relativizar, até porque há que ter em conta as particularidades do processo de eleitoral norte-americano.
"Não há uma eleição para presidente dos Estados Unidos, há 50 eleições em 50 estados diferentes, e em cada estado o resultado é 'the winner takes it all', ou seja, fica com os votos todos desse estado, portanto estas sondagens nacionais servem para vender jornais, para debates interessantes do ponto de vista académico, mas não mais do que isso, portanto, estou esperançado que Hillary Clinton venha a ganhar estas eleições", adianta.
Uma esperança do antigo eurodeputado social-democrata, que não deixa, no entanto, de sublinhar a "importância" da candidatura de Bernie Sanders, que diz ter servido para "realçar alguns valores sociais que muitas vezes faltam na política americana".
A TSF acompanha as eleições norte-americanas com o apoio da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento