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A Casa Ventura, em Amarante, é um daqueles lugares especiais, em que nos deixamos tranquilamente transformar sem darmos pela metamorfose profunda por que passamos. O casal magnético formado pela chef Helena Carvalho e Artur Ventura é telúrico e está sempre pronto a indicar-nos o caminho para o paraíso. As mãos e o talento de Helena são prodigiosos e depois da primeira experiência voltamos sempre muitas vezes.
Coloca-se presunto e queijinho curado fatiado na mesa, em jeito de boas-vindas. Logo surgem os excecionais bolinhos de bacalhau e com eles o primeiro encantamento. São perfeitos os rissóis, de carne ou camarão. Fritura impecável e muito sabor. Num pratinho serve-se cebola com azeite e vinagre, de tratamento impecável. Os ovos rotos são os melhores que se pode encontrar. Texturas em camadas a espevitar-nos as papilas gustativas como num passe de mágica. E a alheira frita é excelente.
Nos pratos de peixe as atenções vão para o peixe fresco do dia, que se entrega a competentes brasas. Robalo, dourada e lulas são visita frequente, proveniência garantida das melhores lotas atlânticas. Há vários bacalhaus, destaco o da casa assado no forno, que só se faz por encomenda. Suculento, transforma o fiel amigo autêntica guloseima. É muito bom também o bacalhau à espanhola, receita que já se fez mais nos lares portugueses e é uma caldeirada maravilhosa. A pescada tem tratamento vip na Casa Ventura. Aconselho a pescada cozida com todos, já pouco se vê na restauração tradicional, mas é uma das grandes glórias da tradição portuguesa. A pescada frita é uma boa alternativa e põe-nos como num feitiço. Polme perfeito, tempero divino.
Nos pratos de carne surge sua majestade a cabidela. É a razão principal por que tantos vão a Amarante, vindos das regiões mais remotas. O arroz de cabidela da chef Helena é mesmo muito bom e, mesmo os que não gostam de pratos feitos com sangue, aqui pedem e repetem. O ossobuco é prato de grande nível e só esta grande cozinheira o faz assim. Fora da matriz dos grandes pratos, uma simples febra de porco frita com batata frita e ovo põe-nos a voar. A costeleta de vitela é deliciosa, executada no ponto perfeito e tem muito para comer. O naco de vitela com arroz malandro é outro clássico deste restaurante mágico.
Chegamos ao momento da sobremesa e claro que queremos a rabanada com mel que aqui se faz. Também ficamos bem com a ótima mousse de chocolate caseira que sai das mãos da chef Helena. Mas só sossegamos quando aqui voltamos. Por exemplo, para as tripas do almoço de sábado. Ou o cabrito assado do almoço de domingo.