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Ainda não é desta que o mundo intensifica a luta contra as alterações climáticas. A convicção é da presidente da Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO), Maria Amélia Martins-Loução, que não vê nascer da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), a decorrer em Sharm el-Sheikh, no Egito, ação suficiente de tanta discussão.
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A bióloga e antiga professora catedrática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa admite que "há sempre grandes esperanças e grandes vontades" de apresentar medidas, mas quando cada governante regressa ao seu país "as realidades são outras e acaba por haver uma diluição dos problemas".
"Há sempre grandes esperanças", mas os problemas acabam diluídos.
"É extremamente difícil lidar com isso e tomar uma posição global, e sem uma não se vai a lado nenhum", lamenta. Maria Amélia Martins-Loução identifica até um problema crónico neste tipo de conferências: a falta de uma visão global.
"Há grande dificuldade em demonstrar que os países poluidores acabam por afetar mais os países não tão poluentes, que acabam por sofrer na pele as consequências de todas essas ações", explica a antiga professora, lembrando que o que se faz ao planeta forma "um círculo" e "tudo o que se faz num determinado local acaba por se ir sentindo em locais muito mais distantes".
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"Tudo o que se faz num determinado local acaba por se ir sentido em locais muito mais distantes."
Assim, a "falta de noção" de que "o que se faz em África pode afetar Portugal, e vice-versa" acaba por "resultar em pequeninas coisas e não em grandes coisas, como se estaria à espera".
Um dos problemas que mais preocupação tem gerado é o aquecimento global, cujo combate tem passado pela adoção de metas, como a definida no Acordo de Paris, de manter o aumento abaixo de 1,5 ºC em relação a níveis pré-industriais até ao final do século XXI. A presidente da SPECO não acredita que tal seja possível e "os modelos já indicam isso".
"O que temos estado a fazer não consegue evitar" o aquecimento global.
"Quanto menos aumentar, melhor será para nós, mas temos de ter a noção de que o que temos estado a fazer não consegue evitar esses aumentos", assinala.
Perante estes dados, é possível dizer que "a Humanidade não tem sabido lidar com nem respeitar a biosfera". Maria Amélia Martins-Loução alerta que "só quando começarem a faltar os recursos, como já vemos com a questão dos cereais e o aumento assoberbado devido à guerra, é que começamos a perceber que está tudo interligado e não podemos continuar a assobiar para o lado".
Humanidade "não tem sabido lidar" com a biosfera.
Decisores políticos, académicos e organizações não-governamentais reúnem-se, até dia 18, em Sharm el-Sheikh, na COP27, tendo como objetivo travar aquecimento global do planeta, limitando-o a dois graus Celsius, entre outras metas.