Há o oficial, o blue, o turístico, o Qatar, o luxo, o soja, o futuro, o Coldplay, o Netflix, o Spotify. E o candidato Milei quer acabar com o peso para o adoptar como moeda nacional.
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Nos Estados Unidos há o dólar. Ponto final. Na Argentina há o dólar. Ponto de partida. Há também o dólar blue, o vendido nas ruas ao dobro do valor do primeiro, e o dólar turístico, para os cartões de crédito dos visitantes.
E o dólar Qatar, pelo qual os adeptos argentinos que foram ao Mundial de Futebol de 2022 se regeram, o dólar luxo, para bens muito caros, o dólar soja, para exportações do grão, o dólar líquido, o das reservas bancárias, ou o dólar futuro, aquilo que a moeda pode valer daqui a um ano.
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Além deles, nasceu o dólar Coldplay, pago especialmente à banda após 15 concertos no país no ano passado, o dólar cabeça grande e o dólar cabeça pequena, tendo em conta o tamanho da representação dos heróis americanos nas notas, sendo que as primeiros, mesmo iguais aos segundos, valem mais. E o dólar amigo, como os argentinos chamam àquele que é trocado a uma boa taxa de câmbio, o dólar Netflix, o dólar Spotify.
Agora, o candidato Javier Milei acena com a dolarização - substituir, de vez, o peso pela moeda americana - como cura dos males económicos argentinos.
Qual, afinal, a razão desta obsessão? Javier Calvo, comentador da rádio e TV América 24 e ex-diretor do diário Perfil explica:
"Na Argentina, o dólar não é tanto uma moeda para importar ou para exportar - é uma moeda de refúgio, aquela em que compramos e vendemos bens de valor, como propriedades e carros, por causa da inflação e da falta de confiança no sistema bancário."
E a instabilidade do peso e da inflação ajudam a entender o resto.
"A única coisa permanente e omnipresente nas nossas vidas é o dólar."
De manhã, ao acordar, os argentinos verificam o tempo, o trânsito e o dólar. Depois, começa o dia.