Acordo da COP28 "apenas fala sobre falsas soluções". Climáximo promete agravar ações de protesto
Noah Zino, porta-voz do movimento Climáximo, considera que o acordo alcançado na COP28, no Dubai, "não reconhece os relatórios científicos".
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O grupo Climáximo, responsável por inúmeros protestos contra os combustíveis fósseis em Portugal, não acredita no acordo alcançado na COP28. O porta-voz do grupo afirma que a decisão tomada no Dubai não passa de uma falsa solução que nega os relatórios científicos.
"Este acordo não vincula nada a ninguém, como na verdade tem sido o caso de todos os acordos de todas as COP. Apenas fala sobre falsas soluções que, por um lado, não conseguem não reconhecer no texto os relatórios científicos que explicitam de forma sistemática como eles estão a falhar colossalmente, mas por outro, têm de continuar a lucrar com a economia fóssil. Portanto, o texto da COP tem sido chamado por várias organizações do local como um certificado de morte. Esta é a COP com mais lobistas das empresas fósseis de sempre, são sete vezes os representantes indígenas e supera os delegados de praticamente todos os países. 2023 é efetivamente o ano com mais emissões de sempre. Eles não têm nenhum plano concreto para cortar emissões e neste momento, em Portugal, o Climáximo continua a ser o único grupo com um plano concreto para cortar estas emissões", afirma à TSF Noah Zino.
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O porta-voz do movimento lamenta que os países e a União Europeia continuem a lucrar com os combustíveis fósseis, avisando que há muito por "desfazer".
"Parte da União Europeia e todas as instituições que estão envolvidas neste momento com as emissões estão ativamente a escolher continuar a emitir mais, estão a exportar emissões para outros países e a culpá-los pelas emissões, como a China, estão a fazer truques de contabilidade e a tentar lançar falsas soluções, como é a questão do hidrogénio e a questão dos combustíveis de baixas emissões que não existem. A questão fundamental é que estas instituições, se continuam a lucrar com a crise climática e a produzir a crise climática, estão a declarar guerra às pessoas e estão continuar a lucrar com a sua morte", defende.
O porta-voz do Climáximo garante ainda que o grupo vai endurecer as ações de protesto nos próximos meses.
"Há poucos dias fizemos uma assembleia aberta em Lisboa, onde as pessoas se podiam juntar e disseram-nos que há imensas prioridades para o movimento por justiça climática e que não podemos parar de resistir, as pessoas têm de se juntar cada vez mais, porque eles não têm nenhum plano. Na verdade, têm um plano para continuar a fazer o que estão a fazer e porque isto é mesmo uma questão das condições de vida das pessoas que não pode ser ignorada e, por isso, sim, vamos continuar com ações. Vão ser ações cada vez mais arrojadas e ações que conseguem colocar a crise climática no centro do debate público", sublinha.
Este é o primeiro acordo climático de sempre sobre combustíveis fósseis. O consenso foi alcançado depois de, nesta madrugada, ter sido apresentado pela presidência da COP28, a cargo dos Emirados Árabes Unidos (EAU), um novo documento que menciona a transição para o fim de todos os combustíveis fósseis com o objetivo de alcançar a neutralidade carbónica até 2050.
"Temos a base para fazer acontecer uma mudança transformadora", afirmou o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, sublinhando: "Este é um feito histórico e sem precedentes."
"Devemos estar orgulhosos do nosso feito histórico e os Emirados Árabes Unidos, o meu país, está justamente orgulhoso do seu papel na contribuição para este avanço", acrescentou.
A Cimeira do Clima do Dubai (COP28) acordou em iniciar uma transição para o abandono dos combustíveis fósseis, após duas semanas de intensas negociações em que cerca de 200 países debateram a forma de enfrentar coletivamente a crise climática.
Os países representados na COP28 adotaram na quarta-feira o "Global Stocktake", o acordo com o qual pretendem reforçar a ação climática para conter o aumento da temperatura a não mais de um grau e meio acima dos níveis pré-industriais.
O acordo, aprovado por consenso em plenário, apela aos Estados para que iniciem uma transição para longe dos combustíveis fósseis, "de forma ordenada e equitativa, acelerando a ação nesta década crítica, com o objetivo de atingir o objetivo de zero emissões líquidas até 2050, de acordo com a ciência".
Nesta cimeira, a prioridade foi abrir caminho para o abandono deste tipo de energia para a União Europeia e outras economias industrializadas, bem como para os países altamente vulneráveis às alterações climáticas, como é o caso de muitos países em desenvolvimento.
Abrir caminho para o abandono destes tipos de energia foi a prioridade da cimeira - para a União Europeia e outras economias industrializadas, bem como para países altamente vulneráveis às alterações climáticas, como muitos Estados em desenvolvimento.
No entanto, até à sessão plenária, havia incerteza na COP28 sobre se um acordo que marcasse o fim da era dos combustíveis fósseis seria aceite pelos países ricos em petróleo, como a Arábia Saudita.
O primeiro rascunho do texto dos EAU, na segunda-feira, causou polémica porque não apelava para "uma saída" dos combustíveis fósseis, cuja combustão desde o século XIX é largamente responsável pelo atual aumento das temperaturas globais de 1,2 °C em relação à era pré-industrial.
"Estamos a fazer progressos", afirmou John Kerry, o enviado dos Estados Unidos para o clima, na terça-feira à noite, enquanto se dirigia para mais uma ronda de negociações. Estão a ser feitos "bons progressos", concordou o ministro australiano do clima, Chris Bowen.
Cerca de 130 países, incluindo Estados Unidos e Brasil, pediam um texto ambicioso que enviasse um sinal claro para iniciar o declínio dos combustíveis fósseis.
Até à data, apenas a redução do carvão foi acordada na COP26, em Glasgow. O petróleo e o gás nunca foram mencionados.
O projeto de acordo dos EAU inclui o reconhecimento do papel desempenhado pelas "energias de transição", numa alusão ao gás, para garantir a "segurança energética" nos países em desenvolvimento, onde quase 800 milhões de pessoas não têm acesso a eletricidade.
O texto contém uma série de apelos relacionados com a energia: triplicar a capacidade das energias renováveis e duplicar a taxa de melhoria da eficiência energética até 2030, além de acelerar as tecnologias de "carbono zero" e "baixo carbono".
A Arábia Saudita, o Kuwait e o Iraque adotaram uma linha dura, recusando qualquer acordo que atacasse os combustíveis fósseis, que são a fonte de riqueza destes países.
Numa conferência em Doha, na terça-feira, o ministro do petróleo do Kuwait, Saad al-Barrak, denunciou um "ataque agressivo" do Ocidente.