O antigo chefe dos serviços secretos líbios deve ser julgado no Tribunal Penal Internacional (TPI), perante a inexistência de um sistema judicial que funcione na Líbia, considerou no sábado a Amnistia Internacional.
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«O ex-chefe dos serviços secretos líbio, Abdullah al-Senussi, deve ser enviado para o TPI para enfrentar as acusações de crimes contra a humanidade», sustentou a organização de defesa dos direitos humanos através de um comunicado.
Senussi, que serviu como chefe dos espiões e mão direita do ditador líbio Muammar Kadhafi, foi preso na Mauritânia, levando de imediato quer a Líbia quer a França a pedirem a sua extradição.
O diretor da Amnistia para o Médio Oriente e Norte de África, Hassiba Hadj Sahraoui, sustentou em contrapartida que Senussi deveria ser entregue ao TPI em Haia.
«As autoridades mauritanas deveriam dar prioridade ao mandado de captura do TPI contra al-Senussi e iniciar os procedimentos legais para a sua transferência sem demora», argumentou.
A Amnistia Internacional rejeitou a ideia de permitir que a Líbia julgue o seu antigo chefe das secretas, sublinhando a inexistência de um sistema judicial que funcione no país.
«Enquanto o sistema de justiça líbio continuar fraco e incapaz de conduzir uma investigação eficiente sobre todos os alegados crimes, o TPI é um mecanismo que pode assumir essa importante responsabilidade do país», considerou.
O TPI emitiu um mandado de captura contra Senussi no passado dia 27 de junho, acusando-o de ser um «autor indireto de crimes contra a humanidade, de assassinatos e perseguições baseadas em motivações políticas«, cometidas na cidade de Benghazi.
Senussi pode também ser responsabilizado pelo massacre na prisão de Abu Salim em 1996, onde mais de mil detidos foram executados a tiro.
Também a França tinha emitido um mandado de captura internacional contra Senussi, depois de um tribunal de Paris o ter condenado "in absentia" a prisão perpétua por envolvimento num atentado à bomba contra um avião comercial francês em 1989, que causou a morte de 170 pessoas.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, saudou no sábado a detenção de Senussi e pediu a sua extradição para França, de acordo com o seu gabinete.
Também o Conselho Nacional de Transição líbio, no poder, pediu a extradição de Senussi para a Líbia, insistindo que fosse julgado em casa.
A polícia da Mauritânia - país que não é co-signatário do Tratado de Roma, que constituiu o TPI - fez saber que quer interrogar Senussi com a Interpol, antes de considerar quaisquer pedidos de extradição.