Quinze partidos argelinos anunciaram hoje que vão boicotar o parlamento resultante das eleições de 10 de maio, cuja primeira reunião está prevista para sábado, noticiam as agências internacionais.
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Com 29 dos 462 deputados, os partidos, alguns dos quais sem presentação parlamentar, condenam o processo eleitoral, que consideram fraudulento.
Centrados em torno do Partido para a Justiça e o Desenvolvimento, do islamita Abdallah Djaballah, que conta com sete deputados, os partidos decidiram criar a Frente Política para a Proteção da Democracia, informou a rádio estatal.
Estas organizações partidárias já anunciaram que não reconhecerão o novo governo, por considerarem que o parlamento é ilegítimo.
Entre os participantes não está qualquer dos principais partidos ou grupos da oposição, como os islamitas do Argélia Verde, que tem 47 deputados, o partido dos Trabalhadores, que elegeu 17, e a Frente das Forças Socialistas, que conseguiu 21 lugares.
O Movimento da Sociedade pela Paz (MSP), o principal partido da Argélia Verde, que também qualificou as eleições de fraudulentas, decidiu que não participará no próximo Executivo.
O MSP tem participado nos vários governos desde 1996, mantendo um pé na oposição e outro no conselho de ministros.
As eleições de 10 de maio foram ganhas pelo partido que tem governado a Argélia desde a independência, a histórica Frente de Libertação Nacional, do presidente Abdelaziz Buteflika, que elegeu 221 deputados, a que se somam mais 70 eleitos por um outro partido da maioria presidencial.
O escrutínio teve uma participação de 43 por cento, mais sete pontos percentuais do que o registado nas eleições de 2007, o que foi interpretado pelo regime como uma forma de apoio às reformas tímidas promovidas por Buteflika, no âmbito da designada Primavera Árabe.
No dia 12, dois dias depois das eleições, o chefe da missão de observadores da União Europeia, José Ignacio Salafranca, descreveu o processo eleitoral como «um passo em frente, que tem de ser melhorado».
Destacando que o processo eleitoral se desenrolou em ambiente calmo e sem incidentes de relevo, Salafranca acrescentou que «tem de ser interpretado como um primeiro passo no processo de reformas, que tem de ser logicamente aprofundado, para consolidar os avanços no processo de transição democrática».
Abdallah Djaballah acusou hoje os observadores de perdoarem as fraudes promovidas pelo Estado, ao fazerem avaliações generalistas do processo eleitoral, apesar de lhes ter sido possibilitado apenas um acesso limitado.
«O testemunho dos observadores estrangeiros é perjúrio, porque lhes era simplesmente impossível monitorizarem a votação em todas as mesas», disse.
Os observadores monitorizaram apenas algumas das mais de 40.000 mesas de voto.