Assistente de imigração nos EUA: "Nunca pensei preparar famílias para eventual deportação"

Celal Gunes/Anadolu via AFP (arquivo)
A TSF falou com a presidente do Centro de Assistência ao Imigrante, sediado em New Bedford, sobre as recentes deportações em massa promovidas pela Administração Trump. Helena DaSilva Hughes confessa que nunca viu nada assim
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As recentes deportações em massa promovidas pela Administração Trump estão a causar forte preocupação no Centro de Assistência ao Imigrante, sediado em New Bedford, no estado de Massachusetts. A organização sem fins lucrativos, fundada há 45 anos e dedicada a apoiar imigrantes no retorno aos países de origem, incluindo Portugal, vive um dos períodos mais desafiantes da sua história.
"Eu nunca pensei que, a partir deste janeiro, íamos começar a preparar famílias em caso de emergência. Chamamos a isso Emergency Family Preparedness, preparar estas famílias caso sejam deportadas ou detidas pelas autoridades de imigração", afirmou Helena DaSilva Hughes, que trabalha no centro desde meados da década de 1980, em declarações à TSF.
Segundo a presidente do centro, muitos imigrantes estão a optar por regressar voluntariamente aos seus países para evitar confrontos com as autoridades. O objetivo é garantir que esse retorno ocorra de forma organizada.
"Temos muitas famílias em situação mixed immigration, quer isto dizer, pessoas que vieram cá, não têm documentos, mas têm filhos americanos. Estas famílias estão em risco. Se são agarradas pela imigração, têm automaticamente de ter um plano de ação para os filhos. Porque se não tiverem um plano, o Estado pode tomar conta destas crianças e ninguém quer que isso aconteça", alertou.
O clima de insegurança tem feito com que muitos evitem sair de casa, frequentar espaços públicos ou até ir à igreja.
"Isso está mesmo a acontecer. E é importante falar da nossa comunidade católica. As igrejas têm um papel fundamental, mas muitas vezes têm-se mantido silenciosas, especialmente aqui na nossa região", lamentou Helena DaSilva Hughes.
Em resposta às políticas de deportação, os bispos católicos dos Estados Unidos enviaram recentemente uma carta ao Papa criticando a separação de famílias e a expulsão indiscriminada de imigrantes. Para Helena DaSilva Hughesh, esta iniciativa poderá incentivar outros líderes religiosos locais a expressarem publicamente a sua posição.
A esperança, sublinhou, é que a voz da Igreja contribua para dar visibilidade às dificuldades enfrentadas por milhares de famílias imigrantes.