Ataques em Cabo Delgado são "dramáticos". Portugal "tem de fazer muito mais" por Moçambique
Maló de Abreu defende que a comunidade internacional, nomeadamente Portugal, tem de intervir de forma mais musculada em Cabo Delgado. O deputado do PSD classifica como "muito instável e muito grave" o momento vivido pelo país africano, depois da série de ataques de que tem sido alvo.
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O deputado Maló de Abreu, em visita a Cabo Delgado, defende que é da responsabilidade de Portugal mobilizar-se para resolver a situação de "ataques frequentes a populações inocentes" no Norte de Moçambique. Também os bispos moçambicano e da África do Sul já fizeram apelos à diplomacia.
Cabo Delgado necessita de uma atuação forte e mais robusta, sublinha o deputado social-democrata, de visita a Pemba, capital da província moçambicana. Na perspetiva de Maló de Abreu, "Portugal tem vindo a fazer mais", mas ainda "é preciso fazer muito mais, e hoje há uma perceção de que temos andado muito devagar".
"Temos caminhado muito devagar, para a tragédia que se adivinha nesta zona. É uma questão dramática, e que obriga a uma intervenção rápida, forte, consistente, da parte também do Governo português, em conjunto com a vontade já manifestada pelo Presidente da República de Moçambique e pela ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique."
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Maló de Abreu defende que a comunidade internacional tem de intervir de forma mais musculada em Cabo Delgado. "Moçambique precisa de ajuda para resolver, como qualquer outro país precisaria. Quem tem mais de meio milhão de deslocados precisa necessariamente da ajuda internacional para resolver este problema grave do Norte de Moçambique."
Nos últimos meses, as operações armadas efetuadas por grupos radicais têm sido constantes no país africano, e têm ocorrido ações armadas perpetradas por grupos que se dizem ligados aos extremistas do Estado Islâmico e que arrasam tudo à sua passagem. Várias populações de aldeias de Cabo Delgado têm ficado deslocadas ou viram-se obrigadas a fugir para a capital de província, Pemba.
Esta situação, agravada nos últimos meses, vem na sequência de múltiplos outros ataques que os militantes islamistas têm realizado desde 2017 na província de Cabo Delgado, rica em gás natural. Duas mil pessoas foram mortas e quase 430 mil ficaram desalojadas desde que o início do conflito na província maioritariamente muçulmana.
As conferências episcopais de Moçambique e da África do Sul repetiram o pedido de ajuda feito há três semanas, dizendo que é necessária uma intervenção política e diplomática muito séria por parte dos países da África Austral.
Este sábado, a polícia da República de Moçambique garantiu que é seguro regressar a Quissanga, uma das vilas da província de Cabo Delgado que esteve durante oito meses sob o domínio de rebeldes. Depois da invasão, em março, 45 mil pessoas fugiram de casa, e agora a polícia garante que estão garantidas as condições de segurança para regressar.
Quissanga situa-se a cem quilómetros de Pemba, a capital da província onde se encontra Maló de Abreu. Pelo que tem observado, o deputado do PSD considera que as pessoas ainda estão muito assustadas, e, por isso, um regresso é improvável. "A situação é muito complexa, e não está, de modo algum, contida", salienta o deputado, que classifica ainda como "muito instável e muito grave" o momento vivido pelo país africano.
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Na perspetiva de Maló de Abreu, a segurança é apenas ilusória, e "a qualquer momento podem surgir outros problemas".
"Não acredito que, mesmo com apelos de regresso a locais que já foram atacados, isso se faça. As populações estão muito assustadas, com medo. Não acredito que ninguém volte neste momento. Longe disso!"
O Norte de Moçambique está a viver uma crise humanitária, com milhares de pessoas deslocadas. Para Maló de Abreu, o conflito exige "ou uma intervenção regional, ou uma mais musculada das forças moçambicanas, ou mais alargada internacionalmente", de forma a "conter a origem do problema".