Os militares que tomaram o poder na Guiné-Bissau não compreendem a atitude do ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, considerando que «se deixou levar a reboque de Angola».
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A posição dos militares guineenses foi transmitida aos jornalistas por Daba Na Walna, porta-voz dos militares golpistas, quando falava numa conferência de imprensa para responder às declarações dos chefes das diplomacias da Guiné-Bissau, Angola e Portugal, que pediram ao Conselho de Segurança das Nações Unidas o envio de uma força de interposição para o país.
«Paulo Portas diz que isso é uma falta de respeito à comunidade internacional [se a comunidade internacional deixar de agir]. Ele que cuide dos problemas que Portugal tem», afirmou.
«Nós respeitamos o povo português e eu tenho, não digo admiração, mas um respeito muito particular para o Paulo Portas, por ser um homem culto e inteligente, custa-me acreditar que se vá a reboque de Angola por causa dos petrodólares. Isso é uma vergonha», referiu o tenente-coronel Daba Na Walna.
Na reunião do Conselho de Segurança da ONU, na quinta-feira, Portugal, através de Paulo Portas, juntou a sua voz ao coro de protestos internacionais sobre a situação na Guiné-Bissau, reforçando a necessidade de uma força internacional para a estabilização do país.
O porta-voz do Comando Militar na Guiné-Bissau vê nessa atitude de Paulo Portas uma falta de inteligência do governante português.
«Não sei onde é que ele terá posto a sua inteligência para estar a pedir o envio de forças para aqui num país que não tem guerra», disse Daba Na Walna, jurista licenciado pela Faculdade de Direito de Bissau e mestre pela Faculdade de Direito de Lisboa.
O Comando Militar nomeou na quinta-feira o ex-presidente da Assembleia Nacional Serifo Nhamadjo para a chefia do Estado interina até à realização de eleições, mas a comunidade internacional não reconhece as autoridades nomeadas pelos militares.
Também na quinta-feira, o conselho de Segurança das Nações Unidas discutiu a situação na Guiné-Bissau e os chefes da diplomacia de Portugal, Angola (pela CPLP), o próprio ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, Mamadu Djaló Pires, e o embaixador da Costa do Marfim (pela CEDEAO) pediram o envio de uma força de interposição para devolver o poder aos civis.