Para a Suécia, o confinamento apresentava um problema: a dificuldade de estipular como e quando o abandonar. O país nórdico optou então por deixar recomendações à população sem apostar em medidas mais restritivas.
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Para os suecos, a vida tem de continuar, e as autoridades do país decidiram, ainda na alvorada do surto, confiar na população para que tenha o cuidado de seguir protocolos. O método não é infalível, mas, ainda que com alguns contactos inadequados, a Suécia parece não estar a ser amplamente afetada pela Covid-19.
O jornal The New York Times traça o cenário: até os idosos circulam pelas ruas, para cumprir tarefas que implicam a espera em longas filas. O grau de confiança do Governo e das instituições na população sueca é elevado. Tão elevado que o país se atreveu a desafiar o confinamento recomendado pela maior parte dos Estados, como fórmula para achatar a curva.
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Os bares, restaurantes e parques de Estocolmo continuam a encher-se de jovens em pleno início da primavera. Ouvida pelo jornal norte-americano, uma mão cheia de transeuntes regozijam-se com a liberdade que prevalece na Suécia e que os leva a crer que é possível ter menos reservas em muitos outros países europeus.
Até ao momento, a Suécia situa-se no pódio dos países nórdicos mais afetados pelo novo coronavírus: contabiliza mais de 18.600 casos de infeção e 2194 mortes devido à Covid-19. Regista, contudo, uma taxa de letalidade de 22 por 100 mil pessoas, atrás de grande parte dos países europeus, e as autoridades sanitárias do país acreditam que os suecos merecem o voto de confiança, acompanhado de recomendações para cumprir uma distância de segurança e as lavagens de mãos com regularidade.
A Suécia nunca chegou a fechar as fronteiras, permitiu que restaurantes e bares continuassem em atividade, deixou abertas as escolas e não impôs limites de circulação em transportes públicos ou parques. Também os cabeleireiros, os ginásios e algumas salas de cinema permaneceram de portas abertas.
O país nórdico foi parco em restrições: ajuntamentos de mais de 50 pessoas foram proibidos, os museus encerraram e os eventos desportivos ficaram para depois. Os lares de idosos foram vedados a visitas. Nas ruas, as forças de segurança aconselham pontualmente as pessoas a cumprir o distanciamento social, e as máscaras não fazem parte do quotidiano. Os espaços públicos que não cumpram as distâncias mínimas entre clientes são encerrados, sem multas, e podem voltar a operar se passarem numa segunda inspeção.
O sistema de saúde não está sobrecarregado. Há ainda 250 camas vazias para receber pacientes com Covid-19, anunciou a ministra sueca da Saúde, Lena Hallengren. Mas é cedo para assegurar que a estratégia da Suécia lhe permita escapar com sucesso à pandemia. Em 75% dos lares e instituições de apoio social de Estocolmo, há casos de contágio pelo novo coronavírus, e os funcionários já apresentaram queixas relativas à escassez de material de proteção.
As autoridades de saúde do país estimam que mais de 26% dos dois milhões de residentes de Estocolmo estarão infetados no início de maio, mas também este dado foi apresentado como uma vitória, já que pode ser a forma de evitar a tão antecipada segunda vaga do surto. As conferências de imprensa de atualização epidemiológica também não são uma necessidade, na perspetiva do Executivo sueco.
A economia sofrerá danos - calcula-se que ocorra uma retração de 7% -, sobretudo ao nível das exportações, de que a Suécia é dependente, mas os negócios locais apresentarão menos mazelas do que noutros países da Europa.
Numa carta endereçada ao Governo da Suécia, 22 cientistas acusam as autoridades sanitárias de negligência. A decisão pelo modelo sueco de (tentar) contornar o surto não é unânime. Há quem acredite que a Suécia procura a imunidade coletiva, o que poderia significar a infeção de pelo menos 60% da população. O Governo nega que seja esta a política seguida. O país do Norte da Europa também procura desacelerar o ritmo da pandemia, mas o Executivo tem enfrentado críticas de que a taxa de letalidade em idosos seria inferior caso o confinamento tivesse sido adotado.