A especialista em Médio Oriente Maria João Tomás afirma, em declarações à TSF, temer o envolvimento de outros grupos, vizinhos do Irão, no conflito.
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A investigadora do ISCTE Maria João Tomás acredita que Israel não irá aceitar nem pausas humanitárias, nem um cessar-fogo na Faixa de Gaza. A especialista em Médio Oriente afirma também que em breve a guerra vai intensificar-se, até porque Israel está apenas "na primeira fase da operação".
"Israel não está pelos ajustes, nem para um, nem para outro, porque está na primeira fase da operação e a primeira fase da operação são ataques aéreos. Já está a ceder em muita coisa, hoje já entraram mais camiões e adivinham-se tempos muito complicados, porque [o primeiro-ministro israelita, Benjamin] Netanyahu disse uma coisa impressionante: 'Estamos numa batalha pelas nossas vidas, uma batalha pela nossa casa. Isto não é um exagero. Isto é guerra. É fazer ou morrer. Eles precisam de morrer'", explica Maria João Tomás, em declarações à TSF, apontando que, após as declarações de Netanyahu, "provavelmente o consenso não apareceu por causa disto".
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"É a primeira fase da operação, a segunda fase será a parte terrestre e eu penso que Israel agora não vai parar", defende.
O Alto Representante da União Europeia (UE) para a Política Externa, Josep Borrell pediu esta segunda-feira, em nome dos 27, uma "pausa humanitária" para que a ajuda possa entrar na Faixa de Gaza. O chefe da diplomacia europeia reconhece que é um apelo "menos ambicioso", em relação ao do secretário-geral da ONU.
A investigadora lamenta ainda a falta de uma posição comum dos 27 Estados-membros, mas sublinha que a UE não tem muita influência na região.
"A influência há de ser do Catar, há de ser a influência americana e há de ser a influência dos países árabes. Não creio que a UE tenha grande peso nessa decisão. A UE é o principal fornecedor de apoio à Palestina", acrescenta, afirmando que isso já é, "por um lado, alguma cedência para países, como, por exemplo, a Alemanha".
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"Esta falta de coesão da UE não é boa. Guterres já alertou várias vezes que tem de haver um teto para o direito da legítima defesa - Israel tem o direito de o fazer -, mas há um teto, que é a lei internacional. Há aqui alguns interesses. A questão do holocausto pesa muito e toda esta conjuntura, a memória é recente e há muitos países que estiveram envolvidos e isso talvez explique a ida de Úrsula [von der Leyen, presidente da Comissão Europeia] a Israel", sublinha.
A especialista em Médio Oriente destaca, assim, que os próximos tempos não se avizinham fáceis, identificando "a questão dos reféns" como umas das grandes vantagens do Hamas.
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"O outro grande trunfo para o Hamas são os 500km de túneis a 75m de profundidade. Só o Hamas conhece. Nesta altura do campeonato, já devem ter juntado as outras brigadas todas", aponta, temendo a junção das várias forças terroristas.
"O que se vai passar a seguir, eu não sei, e tenho até medo só de imaginar o que é que possa vir daí", confessa Maria João Tomás, que sublinha que as forças próximas ao Hamas não devem ser desvalorizadas.
"Desenganem-se, israelitas, que quando forem para a Faixa de Gaza, vão ter a vida fácil. O perigo de uma escalada regional é enorme e eu penso que o Irão não vai intervir diretamente. O Hezbollah tem estado a fazer pressão a norte. Agora, a questão está nos aliados todos do Hamas e aí vamos assistir a ataques terroristas espalhados pelo mundo, provavelmente", explica.
A investigadora alerta, ainda, para a inimizade da Síria com Israel, que, se se sentir pressionada, "irá pedir ajuda ao seu amigo de longa data: Putin".