A Fundação Oceano Azul refere que a proteção e restauração do oceano e dos seus ecossistemas "é determinante para o combate às alterações climáticas".
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O oceano tem sido o "seguro de vida do planeta" e a COP28 corrigiu um dos erros do Acordo de Paris. A análise é do administrador executivo da Fundação Oceano Azul.
Tiago Pitta e Cunha sublinha que, pela primeira vez, a conferência das Nações Unidas reconhece a importância dos oceanos no combate às alterações climáticas.
"O oceano absorveu até hoje 93% do excesso de calor gerado pelo aquecimento global e se não fosse esta absorção do calor da atmosfera pelo oceano, teríamos mais de 17 °C na atmosfera. O que significaria que já não teríamos um mundo viável para os seres humanos. Portanto, o oceano tem feito um trabalho inqualificável no sentido de ter sido o seguro de vida do planeta, o seguro de vida da espécie humana e até agora sem qualquer tipo de reconhecimento. Esse reconhecimento também não é feito ainda com magnitude nos documentos da COP28, mas pelo menos reconhece que a proteção e restauração do oceano e dos seus ecossistemas é determinante também para combate às alterações climáticas."
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Para o responsável da Fundação Oceano Azul o documento final da COP28 representa um progresso, mas poderia ter ido mais longe.
"O processo da biodiversidade da ONU, que foi aprovado o ano passado em Montreal, no Canadá, a meta de que até 2030 temos que conseguir ter áreas protegidas para a natureza terrestre e marinha. Queríamos que essa meta entrasse aqui também, porque isso seria a validação pelos negociadores do clima de uma meta que foi validada pelos negociadores da biodiversidade a nível global, que, por acaso, são os países membros das Nações Unidas. Não conseguimos que essa meta dos 30% ficasse nestes textos da COP28."
Tiago Pitta e Cunha diz ainda que é preciso restaurar a natureza, que é o garante do equilíbrio do planeta e pede cautela nas soluções encontradas.
"Há algo que preocupa a Fundação Oceano Azul e que é a luz verde dada nesta COP aos novos grandes sistemas, alguns de geoengenharia, que pretendem retirar e remover gases efeito de estufa do planeta. Sendo que alguns deles poderão ser também altamente questionáveis do ponto de vista das suas implicações para o próprio planeta. Temos de ter um princípio da precaução antes de criarmos grandes centrais de remoção de carbono que possam elas próprias vir a criar também danos nomeadamente à biodiversidade. Temos de mudar a nossa relação com a natureza, temos de restaurar a natureza, porque só assim vamos conseguir recuperar o equilíbrio bioquímico, que permitiu que durante milénios o clima do planeta fosse equilibrado e não o que estamos a assistir neste momento."
A conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas aprovou o abandono gradual dos combustíveis fósseis, para atingir as emissões zero de gases com efeito de estufa em 2050. Foi ainda definido o objetivo de triplicar a produção de energia renovável a nível mundial e duplicar até 2030 a taxa média anual global de melhoria da eficiência energética, bem como acelerar os esforços no sentido da eliminação progressiva da produção de energia a partir do carvão.