João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que foi o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o dia a dia em Wuhan.
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Wuhan, capital da província de Hubei, possui oficialmente 11 milhões de habitantes, mas estima-se que os seus residentes sejam 14 milhões.
Esta megacidade é também conhecida como o centro de alta tecnologia no coração da China.
Quanto representa Wuhan para o país neste ramo de indústria? E que impacto terá o surto da Covid-19 no desejo da cidade de se tornar uma potência de inovação?
Com um passado ligado à indústria metalúrgica, sendo conhecida como a cidade do aço, Wuhan nos finais dos anos 1980 começou a apostar nas indústrias de alta tecnologia. Em 1988 foi criada a Zona de Desenvolvimento De Alta Tecnologia de East Lake, também conhecida como Optics Valley.
Em 2018 as 90 mil empresas do Optics Valley tiveram um resultado acima dos 140 mil milhões de euros e o seu valor acrescentado ultrapassou os 40 mil milhões de euros. A indústria de alta tecnologia representa 21% do PIB de Wuhan. Estes dados económicos mostram como a cidade consolidou o seu lugar na indústria de alta tecnologia da China.
Wuhan é hoje, por exemplo, o maior produtor mundial de fibra ótica, de dispositivos optoeletrónicos e equipamentos de laser. Mais de 300 das 500 maiores empresas do mundo, como por exemplo a Microsoft e a SAP, têm presença na cidade.
Em 2018, Wuhan concedeu 37.032 patentes de invenção. Significa que 34 em cada dez mil pessoas de Wuhan têm patentes próprias - o número é o quinto mais alto entre as cidades chinesas.
Estas conquistas só se vão manter se a cidade voltar à sua normalidade. Claro está que o "bloqueio" não só afetou a movimentação das pessoas, mas também parou as linhas de produção das indústrias.
Mas a necessidade aguça o engenho e a premência de combater o novo coronavírus levou a" procura crescente de equipamentos como sensores, monitores, dispositivos de rastreio do vírus, termómetros digitais e outros produtos de alta tecnologia, criando-se assim oportunidades para as indústrias deste setor em Wuhan.
O Governo chinês introduziu um conjunto de medidas de apoio às empresas. A carga fiscal será reduzida substancialmente e as empresas de Hubei serão dispensadas de pagar seguros durante meio ano. A esperança é de que os apoios criem as condições favoráveis que permitam a recuperação do setor.
As empresas industriais de Wuhan procuram dar passos largos para recuperar as suas capacidades de produção.
Este longo bloqueio, sem dúvida criou atrasos na busca que a cidade vinha a realizar para se tornar numa potência de alta tecnologia. Mas este é o sacrifício que Wuhan escolheu fazer na luta contra o surto de Covid-19. A paralisação foi uma decisão difícil, mas havia que optar entre os proveitos económicos ou a saúde publica.
Mantenham-se seguros e saudáveis.
João Pedrosa em Wuhan (30 de Abril de 2020)
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