João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que foi o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o dia a dia em Wuhan.
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Estou certo que é de conhecimento de todos que para os chineses as celebrações católicas não têm muito significado.
Se o Natal, por razões comerciais, é mais ou menos assinalado, a Páscoa é praticamente ignorada.
Depois dum sábado cinzento, a puxar a chuva, o domingo de ressurreição de 2020 despertou radioso.
Resolvi aproveitar as condições primaveris que se faziam sentir e realizar uma caminhada por alguns dos cerca de 16 km da avenida Dongfeng, onde está situada a minha residência nesta imensa metrópole.
Há largos meses que, por razões demais conhecidas, não percorro os seus largos passeios ajardinados.
Munido de uma pequena mochila fiz-me ao caminho.
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Tinha por objetivo visitar um dos vários centros comerciais que existem por aqui, de forma a vivenciar o que estaria a acontecer por lá, após a longa quarentena ter quase terminado.
Vi que as portas da estação do metro estavam abertas e fui espreitar. Quase um deserto, apenas uma meia dúzia de passageiros a procurar utilizar esse meio de transporte.
Não perdi muito tempo, pois ainda havia muito caminho a fazer.
Contam-se pelos dedos aqueles com quem me cruzei até chegar junto à grande superfície comercial.
Nas suas portas foram montados dispositivos de segurança para que as entradas das pessoas sejam feitas de uma forma espaçada.
Câmaras de infravermelhos realizavam o controlo de temperaturas corporais.
Apesar de não dispor do código de saúde, ainda não facilitado para os expatriados presentes na cidade, o acesso foi-me concedido.
Fiquei surpreendido pelo número de lojas que já se encontravam a funcionar. No entanto, os frequentadores eram poucos.
Havia alguns restaurantes abertos, no entanto apenas a funcionarem no regime de "take-away".
O mesmo estava a ser feito por todas as lojas, mundialmente conhecidas, de "fast food". Não fiquei admirado com a presença invulgar de clientes, pois os chineses adoram-nas.
Aproveitei para ir ao hipermercado existente, pertencente a uma grande cadeia de comércio internacional.
Embora não visse, nem de longe nem de perto, as usuais multidões do passado, já era notória alguma movimentação.
Não tinha muito a comprar e consegui encontrar aquilo que procurava.
Voltei para casa com uma espécie de sorriso de felicidade, pois sabia que iria ter um dos melhores almoços de Páscoa de sempre: uma caneca de café com leite e um belo prato de torradas, barradas generosamente com a manteiga acabada de comprar.
Mantenham-se seguros e saudáveis.
João Pedrosa em Wuhan (13 de Abril de 2020)