"Desfecho tão simples" do caso Wagner levanta dúvidas, mas Putin sai "muito fragilizado"
Diana Soller explica que falta perceber se é, de facto, possível um regresso à normalidade na organização bélica russa ou se esta vai sofrer "uma mudança profunda".
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A investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais, Diana Soller, considera que o desfecho da rebelião do grupo Wagner contra Moscovo, este sábado, é "bastante inesperado" e diz ter dúvidas sobre se esta será, de facto, uma solução para o episódio.
"A minha dúvida aqui é se isto é verdadeiramente um desfecho. Aparentemente, sim, agora, aconteceu aqui qualquer coisa de muito significativo na Rússia e na legitimidade de Vladimir Putin, enquanto senhor todo-poderoso da Rússia", assinalou na emissão especial que a TSF dedicou este sábado à crise na Rússia.
Para Soller, as acusações "muito graves de traição" trocadas entre Vladimir Putin e o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, e a encenação, "no mínimo, de um golpe de Estado" levantam dúvidas sobre se é de facto possível um regresso à "normalidade". Fica também a dúvida sobre se vai "haver uma mudança profunda nas questões da liderança russa".
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"Esta é uma situação efetivamente tão grave que um desfecho tão simples é alguma coisa que, com certeza, tem de nos fazer pelo menos desconfiar um bocadinho", avalia.
Ainda assim, sendo desde já certo que a liderança de Vladimir Putin "sai muito fragilizada" do atrito com Prigozhin, fica por saber "de que forma é que a Rússia vai conseguir reerguer-se e manter-se numa guerra depois de uma situação desta envergadura".
O chefe do grupo paramilitar Wagner, Yevgeny Prigozhin, suspendeu as movimentações da rebelião na Rússia contra o comando militar, menos de 24 horas depois de ter ocupado Rostov, cidade-chave no sul do país para guerra na Ucrânia.
Ao fim do dia, em que foi notícia o avanço de forças da Wagner até cerca de 200 quilómetros de Moscovo, Prigozhin anunciou ter negociado um acordo com o Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
Antes, o chefe do grupo paramilitar acusou o Exército russo de atacar acampamentos dos seus mercenários, causando "um número muito grande de vítimas", acusações que expõem profundas tensões dentro das forças de Moscovo em relação à ofensiva na Ucrânia.
O presidente russo qualificou de rebelião a ação do grupo, afirmando tratar-se de uma "ameaça mortal" ao Estado russo e uma traição, garantindo que não iria permitir uma "guerra civil".