Vítor Cotovio chamou à atenção para a «possibilidade de informação ser utilizada como manipulação» e recordou que se vê um sofrimento generalizado nas cerimónias fúnebres de Kim Jong-il, num regime onde o «importante é colectivizar tudo».
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O psiquiatra Vítor Cotovio entende que é difícil avaliar até que ponto são genuínas as lágrimas dos norte-coreanos que acompanharam esta quarta-feira o cortejo fúnebre de Kim Jong-il.
Ouvido pela TSF, este psiquiatra, que participa no programa Pensamento Cruzado, da TSF, lembrou que as filmagens foram feitas pela televisão oficial norte-coreana.
«A possibilidade de a informação ser utilizada como manipulação é real e isso tem de ser assumido dessa maneira, porque um regime fechado divulga para o exterior o impacto da morte do seu líder e pretende divulgar a informação dessa maneira», explicou.
Vítor Cotovio diz que mesmo que «é como se o sofrimento tivesse de ser um sofrimento militarizado, um sofrimento em formatura», quase uma «linha de montagem de sofrimento».
«Independentemente de respeitarmos o que cada um sofrerá, é evidente que, por outro lado, o sofrimento também é contagioso», ou seja, «há a emoção que tenho com uma perda, mas depois há a caricatura dessa emoção», lembrou.
Para este psiquiatra, «o que pode ser desproporcional naquilo que vimos é a desproporção existente entre a emoção e a forma como é muitas vezes mostrada».
«Muitas vezes, o sofrimento genuíno é mais privado que público. Num regime em que o importante é colectivizar tudo, vemos a colectivização do sofrimento», concluiu.