Diretor de rede síria para os direitos humanos duvida de iniciativa para localizar desaparecidos na guerra
Fadel Abdul Ghany assinala quem, sem a colaboração do regime de Bashar al-Assad, pouco ou nada pode ser feito.
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É um lamento deixado pelo diretor da Rede Síria para os Direitos Humanos na TSF: a nova instituição internacional proposta na semana passada por António Guterres para saber o paradeiro de mais de cem pessoas na Síria é bem-vinda, mas dificilmente terá sucesso.
O problema, assinala Fadel Abdul Ghany, não é novo. A criação de um organismo para investigar desaparecimentos no país é uma exigência antiga das organizações não governamentais (ONG) e uma recomendação das próprias Nações Unidas.
"Os sírios sofrem com estes desaparecimentos há 12 anos e o primeiro relatório da comissão de inquérito da ONU afirmava que os desaparecimentos cometidos pelo regime de Bashar al-Assad eram crimes contra a Humanidade. Isso foi em novembro de 2011." Passado tanto tempo, o responsável continua a não acreditar que seja possível localizar todas as pessoas.
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Para isso, é necessária a "colaboração do regime de Assad e das outras partes. Mas ele nunca colaborou com nenhuma das instituições da ONU, nem com a comissão de inquérito, nem com o alto-comissário. Nada".
E é precisamente esse posicionamento passado que leva Ghany a não acreditar que algo mude agora. De qualquer forma, o organismo "será um instrumento de pressão contra o regime de Assad".
Os números oficiais das Nações Unidas apontam para cem mil desaparecidos. Fadel Abdul Ghany acredita que serão, na realidade, 111 mil e apoia-se no material com que trabalha.
"Isto não é só um número, são dados. Nós só trabalhamos com dados, nomes e muitos detalhes sobre cada pessoa", sendo que muitas já morreram sem que as famílias o tenham sabido.
Com 12 anos de guerra na Síria que já provocaram quase seis milhões de refugiados, o líder da rede para os direitos humanos não poupa nas críticas ao secretário-geral das Nações Unidas. Começam pelo "último discurso" de Guterres, que "foi fraco" e "nunca mencionou o principal criminoso".
"Durante 12 anos, o conflito na Síria tem sido negligenciado. O dossiê sírio não tem sido bem gerido pelas Nações Unidas e isso é responsabilidade dele." Desde o início da guerra já morreram quase 500 mil pessoas.