Os dois arguidos são alvo de um mandado de captura das autoridades russas desde maio de 2022 e vivem no estrangeiro.
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Um tribunal de Moscovo condenou esta terça-feira dois jornalistas russos a 11 anos de prisão à revelia por terem difundido "informações falsas" sobre o Exército, anunciou o Ministério Público (MP) da Federação Russa.
Ruslan Leviev e Michael Nacke cometeram o crime de que foram acusados num vídeo que publicaram na plataforma YouTube em março de 2022, logo após a invasão russa da Ucrânia, disse o MP, citado pela agência francesa AFP.
Os dois arguidos são alvo de um mandado de captura das autoridades russas desde maio de 2022 e vivem no estrangeiro.
Muitos críticos da ofensiva russa na Ucrânia e do regime do Presidente Vladimir Putin exilaram-se para escapar à repressão no país.
Ruslan Leviev é o fundador do grupo de investigação Conflict Intelligence Team (CIT), conhecido pelas investigações sobre as atividades do Exército russo em todo o mundo.
Michael Nacke, jornalista e comentador, dirige atualmente um canal no YouTube fora da Rússia com mais de um milhão de subscritores.
No início de agosto, o CIT, que se notabilizou em 2014 pela publicação de investigações sobre o envolvimento das forças russas na Ucrânia, foi declarado indesejável pelas autoridades de Moscovo.
Após a ofensiva contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia introduziu uma série de medidas penais para punir os críticos do regime.
É proibido utilizar os termos "guerra" ou "invasão" em relação à ofensiva, designada oficialmente como uma "operação militar especial", ou acusar o Exército de crimes de guerra, entre outras medidas.
Em consequência, diversos media independentes foram obrigados a suspender a atividade ou a deixar o país, e muitos opositores optaram pelo exílio ou foram detidos e condenados.
Um dos casos recentes mais notórios é o do historiador, jornalista e político Vladimir Kara-Murza, que foi condenado a 25 anos de prisão por traição em abril, na sequência de discursos contra a guerra.
Kara-Murza, 41 anos, é considerado pela Amnistia Internacional como um preso de consciência e era próximo do opositor Boris Nemtsov, assassinado a tiro em 2015, perto do Kremlin, sede do poder em Moscovo.
No início de agosto, o principal rosto da oposição a Putin, Alexei Navalny, sobrevivente de uma tentativa de envenenamento como Kara-Murza, foi condenado a mais 19 anos de prisão, por extremismo.
Navalny, 47 anos, já estava a cumprir uma pena de 11 anos de prisão por alegadas fraudes.
Putin, no poder desde 2000, acusa os críticos internos de serem uma "quinta coluna" ao serviço dos interesses ocidentais.