O novo Boeing 737 Max 8 já soma duas tragédias no cadastro e tudo indica que as dificuldades sentidas pelos pilotos da Ethiopian Airlines são semelhantes às do avião da Lion Air que se despenhou em outubro do ano passado.
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O acidente deste domingo é já o segundo em pouco mais de quatro meses a envolver um Boeing 737 Max 8, um dos modelos mais recentes da fabricante norte-americana.
A queda de um avião da Ethiopian Airlines provocou este domingo a morte de 157 pessoas de 35 nacionalidades, 149 passageiros e oito tripulantes, e já em outubro do ano passado um Boeing 737 Max 8 ao serviço da companhia indonésia de baixo custo Lion Air despenhou-se no mar, ao largo de Java, com 189 pessoas a bordo.
Ainda pouco se sabe sobre o que pode ter provocado o acidente mais recente, mas as duas tragédias aparentam ter um ponto em comum: o avião da Ethiopian Airlines desapareceu dos radares seis minutos após a descolagem de Adis Abeba, o avião da Lion Air desapareceu dos radares 12 minutos depois de ter descolado do aeroporto de Jacarta.
Para já, sabe-se apenas que o piloto do avião da companhia aérea etíope reportou "dificuldades" e pediu à torre de controlo para regressar ao aeroporto da capital. A autorização foi concedida, mas o aparelho não voltou a dar sinais de vida. Os controladores em terra registaram ainda que o avião manteve uma "velocidade vertical instável após a descolagem".
No caso do avião da Lion Air, as caixas negras indicaram falhas no indicador de velocidade nos últimos quatro voos realizados pelo mesmo aparelho. Confrontados com valores "erráticos" dos indicadores de velocidade e de altitude, os pilotos lutaram contra problemas quase desde a descolagem.
Isto porque o novo sistema automático de estabilização, criado para corrigir a posição do nariz do avião - uma novidade do Boeing 737 Max -, estava a receber leituras incorretas do sensor e a tripulação não conseguiu desligá-lo. Em resultado, o nariz do avião foi forçado a baixar mais de uma dúzia de vezes no espaço de 11 minutos até que a perda de controlo foi total e o aparelho caiu no oceano, a mais de 700 quilómetros por hora.
A Boeing garantiu na altura que os passos para solucionar eventuais problemas com este sistema de aumento de características de manobra (conhecido pelas iniciais inglesas - MCAS) já estão incluídos nos manuais de voo, pelo que não era necessária informação adicional.
Vários pilotos referem, contudo, que há uma diferença vital entre os antigos modelos do 737 e do novo 737 Max 8, uma diferença que não foi esclarecida. Nos antigos modelos, os pilotos podiam reagir a esta emergência puxando um manípulo situado mesmo em frente a eles. No novo modelo essa medida não funciona e os pilotos do voo 610 da Lion Air puxaram diversas vezes a alavanca sem sucesso.
Considerado um dos modelos mais avançados de sempre, com tecnologia de ponta no que diz respeito à sustentabilidade e eficiência, o Boeing 737 Max 8 começou a ser operado regularmente pelas companhias aéreas no final de 2017, depois de se estrear nos céus em 2016.
Também os dois aviões deste modelo que caíram nos últimos meses eram novos: o da Ethiopian Airlines foi adquirido em novembro passado, o da Lion Air foi fabricado em 2018 e comprado pela companhia aérea em agosto do mesmo ano.
Esta segunda-feira, Tanto a China como a Indonésia ordenaram a todas as companhias aéreas dois países para deixem de usar temporariamente aviões Boeing 737 Max 8 por preocupações com a segurança e a companhia aérea Ethiopian Airlines decidiu também imobilizar toda a frota de aparelhos deste modelo.
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