"Em Kherson necessitam de tudo: alimentação, bens essenciais de higiene, abrigo e roupas quentes"
Diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações afirma que o grande desafio na região "é exatamente preparar as populações para conseguirem ultrapassar este inverno".
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O diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), António Vitorino, no primeiro dia do Seminário Diplomático 2023, organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, detalha as principais "necessidades em termos de ajuda de emergência" na assistência à população ucraniana, por parte da agência da ONU que dirige.
"A prioridade neste momento é, obviamente, apoiar as populações da linha da frente, designadamente da região de Kherson, onde necessitam de tudo: alimentação, água, os bens mais essenciais de higiene e abrigo e roupas quentes, porque o inverno é particularmente rigoroso", sublinhou.
Mas em relação ao conjunto da população ucraniana, o grande desafio "é exatamente preparar as populações para conseguirem ultrapassar este inverno, encontrando métodos alternativos de aquecimento. Temos uma operação muito importante, por exemplo, de distribuição de geradores que tem um alcance limitado, mas que permitem o aquecimento de conjunto de um conjunto de instalações coletivas, onde as pessoas podem encontrar elementos de abrigo e de aquecimento".
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Um dos pontos onde a OIM tem marcado presença permanente é precisamente em Kherson, de onde as forças russas se retiraram, mas que agora é bombardeada a um ritmo quase diário. O antigo governante português e ex-comissário europeu admite que, sendo Kherson, no sul da Ucrânia, uma das linhas da frente do combate, "às condições de vida. Lá são praticamente impossíveis e uma das operações que nós temos estado a conduzir é uma operação arriscada de organizar com voz de apoio humanitário às populações que estão nessa zona em Kazan, na cidade e nos arredores, mas também permitir a evacuação daqueles que pretendam sair para zonas mais seguras do Ocidente da Ucrânia".
"A guerra envolve sempre um enorme sofrimento", diz Vitorino. Um sofrimento agravado pela dureza do inverno na região, "porque, de facto, as condições de sobrevivência estão postas em causa em virtude da ausência de meios de aquecimento. Nós estamos a falar de zonas onde a temperatura pode ser dez, 15 ºC abaixo de zero e, portanto, neste momento a prioridade é levar às pessoas o abastecimento em alimentação, em água, em pão, por exemplo, que é muito importante, e roupas quentes, mas muitas delas vão ter que ser evacuadas para zonas mais protegidas". Durante a ocupação pelas forças russas, houve "um conjunto de serviços coletivos, designadamente de saúde, que foram severamente impactados. E, portanto, neste momento, essas pessoas mais vulneráveis, as pessoas de idade ou as pessoas que têm doenças, têm que ter prioridade" numa operação de evacuação.
O governo italiano aprovou uma legislação que vai dificultar mais o trabalho das organizações internacionais, no sentido de fazerem resgates no mar. Há receios de alastramento ao resto da Europa? O diretor-geral da OIM responde sem assumir esse receio.
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"Infelizmente, o Mediterrâneo Central é a rota migratória mais mortífera. Nós registámos cerca de 1200 mortos durante o ano de 2022. E obviamente que são estes são os mortos registados. Nós não excluímos que haja muitos mais de que não temos obviamente, conhecimento. É uma das conclusões que retirámos do Fórum Internacional das Migrações, em Nova Iorque, em maio do ano passado. Foi exatamente a necessidade dos Estados darem prioridade a operações de busca e salvamento para permitirem que se salvem vidas. É essa a conclusão que continua a ser relevante. Ou seja, não é um problema que possa ser exclusivamente deixado às organizações da sociedade civil, são os Estados que têm que assumir essa responsabilidade".
Isto numa altura que ainda falta um pacto europeu de migração e asilo, que tem estado a ser negociado na União Europeia: "Para nós, OIM, é um instrumento importante que seja aprovado. Um calendário previsto até às eleições do Parlamento Europeu em 2024. E nós esperamos que as presidências que se vão suceder, a começar agora com a presidência sueca, possam relançar a discussão do pacto. Porque, como evidencia a guerra na Ucrânia, a necessidade de haver regras comuns de asilo e de imigração é imprescindível para o futuro do projeto europeu."