O embaixador dos Estados Unidos em Madrid, James Custos, comprometeu-se hoje perante o secretário de Estado espanhol para a UE, Iñigo Méndez de Vigo, a clarificar quaisquer «dúvidas» sobre a alegada espionagem do seu país a Espanha.
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Essa foi a posição expressa por Custos, que hoje foi chamado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros depois da polémica em torno da alegada espionagem levada a cabo pelos Estados Unidos em Espanha.
Em comunicado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros espanhol instou as autoridades norte-americanas «a que facilitem toda a informação necessária sobre as supostas escutas realizadas em Espanha».
Acrescenta ainda que o Governo transmitiu ao embaixador a importância de preservar o clima de confiança que rege nas relações bilaterais e de conhecer o alcance de umas práticas que, a serem verdadeiras, são «impróprias e inaceitáveis entre parceiros e países amigos».
O Governo, explica a nota, «reiterou ao embaixador a sua preocupação pelas informações que surgiram nos meios de comunicação nos últimos dias e sublinhou o necessário equilíbrio que todo o sistema deve manter entre a segurança e a defesa da privacidade e intimidade das comunicações», tal como é garantido na legislação espanhola.
Méndez de Vigo referiu-se às gestões diplomáticas realizadas em julho pelo secretário de Estado de Assuntos Exteriores perante a subsecretária de Assuntos Políticos do Departamento de Estado e, em agosto, pelo subdiretor geral da América do Norte perante o encarregado de Negócios em Madrid.
O assunto foi ainda alvo de análise, explica a nota, pelo grupo de trabalho ad hoc da União Europeia-Estados Unidos sobre proteção de dados.
Custos explicou, segundo o comunicado espanhol, que transmitirá a preocupação das autoridades espanholas ao Governo norte-americano, mostrando-se convicto de que, «o Governo dos Estados Unidos clarificará as dúvidas que têm surgido sobre este assunto».
Entretanto, num outro comunicado da embaixada, o diplomata James Custos explicou que, durante o encontro, «sublinhou a importância da comunicação aberta entre aliados», assegurando que continuarão as «consultas bilaterais em curso sobre a recolha de informação das agências governamentais dos Estados Unidos».
«Os programas aos que se faz referência em algumas destas informações são programas de segurança nacional que têm desempenhado um papel fundamental na proteção dos cidadãos dos Estados Unidos. Também têm jogado um papel primordial na coordenação com os nossos aliados e também na proteção dos seus interesses», sublinhou.
Custos recordou que o Presidente Barack Obama ordenou já uma investigação interna para garantir que a informação que se recolha nesses programas "não é toda a que os Estados Unidos é capaz de recolher, mas sim a que deve e tem que ser recolhida".
«Em última instância, os Estados Unidos têm que equilibrar o importante papel que estes programas desempenham na proteção da nossa segurança nacional e na proteção e segurança dos nossos aliados, com os problemas de privacidade legitimamente referidos», disse.
O encontro de hoje coincide com notícias do jornal El Mundo que referem que os Estados Unidos espiaram mais de 60 milhões de chamadas telefónicas em Espanha em apenas um mês, entre o final do ano passado e o início de 2013.
O jornal explica que a confirmação da espionagem realizada pela Agência Nacional de Segurança (NSA, sigla em inglês) está expressa num documento da agência intitulado "Spain last 30 days" (Espanha últimos 30 dias) que detalha o fluxo de comunicações intercetadas entre 10 de dezembro de 2012 e 08 de janeiro de 2013.
O El Mundo explica que se trata de documentos obtidos pelo jornal mediante um acordo exclusivo com o jornalista Glenn Greenwald, que tem vindo a divulgar o que identifica como "documentos Snowden".
Edward Snowden é um ex-colaborador da NSA que tornou públicos detalhes de vários programas confidenciais usados pelos Estados Unidos para a vigilância eletrónica de governos em todo o mundo.