O embaixador da Síria na Organização das Nações Unidas (ONU) acusou hoje o secretário-geral Ban Ki-moon de «caluniar» o seu país, depois de este ter condenado a repressão violenta dos protestos pelo Presidente Bashar al-Assad, noticia a AP.
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O embaixador Bashar Jaafari atacou a ONU e vários países árabes pela forma como estão a tratar com a crise síria.
Ban Ki-moon ouviu sentado a declaração proferida pelo embaixador sirio na Assembleia-Geral da ONU, ao longo de 45 minutos, que se seguiu precisamente à sua, na qual voltou a apelar ao fim do banho de sangue e à autorização de assistência humanitária às cidades onde têm decorrido protestos.
«As perdas civis têm sido claramente pesadas», afirmou Ban Ki-moon à assembleia de 193 Estados-membros, referindo-se ao assalto das tropas governamentais à cidade de Homs, feito esta semana.
«Continuamos a receber relatórios medonhos de execuções sumárias, detenções arbitrárias e tortura», acrescentou.
Ban Ki-moon salientou: «Este assalto atroz é tão mais aterrador por ter sido feito pelo próprio governo, que ataca sistematicamente o seu povo».
«O uso desproporcionado da força pelas autoridades sírias conduziu o que têm sido forças pacíficas de oposição a pegar em armas, em alguns casos. Mas, sejamos claros: o poder de fogo da oposição é mínimo, comparado com as armas pesadas que têm sido usadas pelo Exército sírio», acrescentou.
Em resposta, o embaixador sírio frisou o que disse ser a sua «longa amizade» e «respeito pessoal» pelo secretário-geral da ONU, mas acrescentou que tem sido contado «um mar de mentiras» sobre a Síria.
Jaafari disse que o relatório de ban Ki-moon «inclina-se mais para aumentar as tensões do que para encontrar uma solução» e acusou as Nações Unidas de «duplicidade», por apelar a esforços para juntar o governo sírio e a oposição, enquanto está a usar informação de «países que são inimigos abertos da Síria».
Ban Ki-moon fez «um discurso agressivo, virulento e calunioso», mas propôs o antigo secretário-geral da ONU, Kofi Annan, como seu enviado especial para a Síria, acrescentou.
Os comentários de Ban Ki-moon «serão interpretados pelos grupos armados como uma cobertura legal que lhes possibilita agir de maneira criminosa».
Jaafari negou ainda que o seu governo tenha recusado a entrada no país à chefe da agência humanitária da ONU, Valerie Amos, acrescentando que Damasco estava à espera de determinar uma data para a visita.
«A maior parte da Síria está a viver normalmente», garantiu, acrescentando que o governo «não se poupa a esforços» para permitir que as pessoas tenham acesso a serviços.
O embaixador sírio atacou ainda a Líbia, por ter oferecido 100 milhões de dólares à oposição, e o embaixador saudita na ONU, por ter feito um discurso em que comparou os acontecimentos em Homs com o massacre de Srebrenica, na Bósnia, na década de 90.
Jaafari qualificou ainda o discurso de Ki-moon como «vergonhoso» e acrescentou: «Espero que não seja mais provocado para que não tenha de fazer mais declarações desrespeitosas».