As autoridades da Cidade do Cabo, cidade sul-africana que devia receber este mês um encontro de prémios Nobel da Paz, anunciaram hoje o cancelamento da iniciativa devido à recusa de Pretória de emitir um visto ao Dalai Lama.
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«Os prémios Nobel e as instituições laureadas acordaram, na ausência da atribuição de um visto ao dalai lama, renunciar à participação coletiva para protestar contra esta decisão», indicaram as autoridades da Cidade do Cabo, precisando que os participantes estão à procura de um novo local para a realização do encontro.
«Muito irritada e fortemente dececionada», a presidente da Câmara da Cidade do Cabo, Patricia De Lille, lançou, no mesmo comunicado, duras críticas contra o governo de Pretória.
«Não existem dúvidas de que o governo sul-africano é culpado por esta situação», declarou a responsável local.
Patricia De Lille é membro da Aliança Democrática, o principal partido da oposição ao Congresso Nacional Africano (ANC, na sigla em inglês) no poder na África do Sul há duas décadas. A Aliança Democrática dirige a província do Cabo desde 2009.
«Deliberadamente induziram em erro a opinião pública sobre a recusa do visto ao dalai lama, afirmando que não tinham recebido qualquer pedido, quando na verdade indicaram de forma clara aos representantes [do líder espiritual tibetano] que nenhum visto seria emitido para a sua deslocação ao encontro do Cabo este ano», acrescentou Patricia De Lille.
A 14.ª edição deste encontro estava prevista para decorrer entre 13 e 15 de outubro.
Em Dharamsala, no norte da Índia, o líder espiritual tibetano acusou hoje o governo da África do Sul de «perseguição a uma simples pessoa».
O Dalai Lama falava numa cerimónia de comemoração do 25.º aniversário da atribuição do seu Prémio Nobel da Paz, em 1989.
«O encontro dos Prémios Nobel da Paz agendada para a África do Sul para homenagear o legado do nosso colega laureado, o falecido Nelson Mandela, foi cancelado porque o governo sul-africano não permitiu a minha presença», disse o líder espiritual tibetano em Dharamsala, onde se encontra exilado.
«Isto é uma espécie de perseguição a uma simples pessoa», reforçou.
É a terceira vez que o dalai lama, acusado pela China de defender a independência do Tibete, é tratado como uma pessoa indesejada pela África do Sul desde a subida ao poder do Presidente Jacob Zuma en 2009.
O Dalai Lama, de 79 anos, está exilado desde a ocupação chinesa do Tibete em 1959.