Eurodeputado Paulo Cunha defende redução dos custos da energia para revitalizar indústria automóvel na Europa
Em declarações à TSF, Paulo Cunha salienta que "cerca de 98% dos veículos produzidos na União Europeia têm pelo menos um componente produzido em Portugal"
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O eurodeputado social-democrata Paulo Cunha alerta para o impacto significativo em Portugal da perda de protagonismo à escala global do setor automóvel europeu. Em entrevista, esta quinta-feira, ao programa Fontes Europeias da TSF, o eurodeputado sublinha que os custos energéticos das empresas europeias são muito superiores aos das chinesas, o que prejudica a competitividade europeia.
Além disso, o aumento do custo energético tem um impacto significativo no produto final, afetando toda a cadeia produtiva, desde o setor automóvel até outras indústrias, como agricultura, comércio e turismo.
O eurodeputado social-democrata afirma que, se não forem tomadas medidas concretas para reduzir os custos energéticos e reforçar a competitividade europeia, há o risco de uma perda de protagonismo global, o que teria consequências graves para o setor automóvel europeu e para a economia portuguesa.
“Estamos a falar de um setor que, em toda a Europa, emprega direta e indiretamente 13 milhões de pessoas. Só em Portugal, são cerca de 100 mil as pessoas que trabalham direta e indiretamente neste setor. É um setor que tem um impacto muito grande do ponto de vista económico, representa cerca de 7% do PIB europeu e, em Portugal, representa 20% das exportações nacionais”, destacou o eurodeputado como exemplos que “servem para justificar a essencialidade do setor”.
Porém, segundo refere, “nos anos recentes, desde que se introduziu um conjunto de mudanças, nomeadamente ao nível da alteração dos motores de combustão para soluções alternativas, nomeadamente elétricas, isso fez com que a União Europeia e os produtos europeus tenham perdido algum do protagonismo que mantiveram neste setor”.
O eurodeputado alerta que “essa perda significará, obviamente, consequências negativas para a Europa e também para Portugal”. A nível nacional, não estão apenas em causa as empresas produtoras de automóveis, mas “também aquelas que produzem pneus, as ligadas ao setor do vidro, ao setor do têxtil”, que são fornecedoras da indústria automóvel. Por esta razão, Paulo Cunha nota que o enfraquecimento da indústria a nível europeu representará “um problema enorme para Portugal”.
“Hoje, a China tem já um peso muito significativo no setor automóvel e afeta, obviamente, a Europa pela sua capacidade de produzir”, frisou o deputado, destacando que “hoje, as marcas chinesas representam já 10% das vendas de veículos elétricos na União Europeia”.
Perante o diagnóstico que apresenta, o deputado reclama medidas concretas a nível europeu. “Há várias dimensões, desde a inovação à tecnologia, mas o dossiê da energia tem um peso muito significativo nas questões económicas”, considerou, fazendo uma comparação dos custos para as empresas europeias com as de outras regiões do globo, como a China.
“Os custos energéticos para as empresas europeias são incomparavelmente superiores aos custos energéticos, por exemplo, para as empresas chinesas. E, por outro lado, o impacto do custo energético no produto final é cada vez maior. Ora, se o custo energético aumenta e se o seu impacto no produto final também aumenta, isso quer dizer que este setor é cada vez mais essencial naquilo que é toda a cadeia produtiva”, sublinhou, alertando para a necessidade de medidas.
“É preciso tomar medidas para que os custos energéticos sejam mais adequados e para que, do ponto de vista da concorrência à escala global, a União Europeia não seja prejudicada por causa disso”, afirmou Paulo Cunha, defendendo que, em primeiro lugar, “é preciso pragmatismo”.
“É preciso ter consciência de que, por um lado, nós queremos, e bem, aplicar o Pacto Ecológico que obriga a um conjunto de alterações, mas é preciso também que haja uma aposta real em fontes alternativas de energia”, afirmou, detalhando que não se trata de fazer a defesa “do regresso à carbonização, nem do abrandamento da descarbonização”.
“O que nós defendemos é uma aposta efetiva nas fontes alternativas, nas chamadas energias limpas, que são muito mais do que amigas do ambiente e trazem sustentabilidade e melhoria da qualidade de vida para as pessoas. Também são aquilo que nós chamamos de energia do futuro”, sublinhou o eurodeputado, considerando que, em matéria de energia limpa, “Portugal está também bem colocado”.
“Desde o vento, ao sol, às marés, ao hidrogénio verde, que é uma fonte também muito relevante, até à própria energia elétrica, desde que com fontes ambientalmente sustentáveis. Portanto, Portugal, no contexto europeu, tem aqui uma oportunidade: pode ser protagonista na mudança das fontes de energia à escala europeia”, destacou Paulo Cunha, considerando que são necessárias “apostas reais”.
“Não basta que as empresas sejam obrigadas a fazê-lo sem lhes dar condições. Não haver apoios, não haver soluções fiscais, por exemplo, que estimulem o recurso a essas energias. O que não pode acontecer, no final do dia, é obrigarmos, através de mecanismos regulatórios, as empresas europeias a cumprir um conjunto de regras que as empresas chinesas e outras à escala global não são obrigadas a cumprir e, depois, concorrem em desvantagem à escala mundial”, sublinhou.