Migrações são a única hipótese de travar declínio populacional da Europa e de Portugal.
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Maria João Valente Rosa, socióloga e especialista em demografia, considera que se o aumento da população mundial é sinal da diminuição da mortalidade infantil e "um sucesso muito significativo na esperança de vida" e no avanço das políticas de saúde, por outro está a criar grandes desequilíbrios entre várias regiões do planeta. Porque é nas regiões mais pobres do planeta que se espera o aumento de população nos próximos anos.
"África, que em 1950 representava metade da população da Europa, hoje, segundo as Nações Unidas tem mais do dobro da população Europeia", esclarece. "Em muitos desses países os números da natalidade são muito elevados", adianta.
A investigadora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL) dá o exemplo da Nigéria em que a média aponta para 5,2 filhos por mulher, ou seja, "muito acima da média mundial e claramente acima da média da Europa". Ressalva que os investigadores estão sempre a falar de cenários para os próximos anos, "mas as tendências estão cá".
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Muitos destes desequilíbrios populacionais, na opinião de Maria João Rosa, podem atenuar-se com as migrações dos povos para continentes onde a população é cada vez menor e está envelhecida. "Espera-se que em 2050 a Europa represente 7% da população mundial, quando em 1950 tinha 22%", afirma. Uma diminuição enorme verificada nos últimos 100 anos e por isso "a população europeia está dependente das migrações para ter algum dinamismo demográfico".
Admite que "isso pode conter outros problemas, mas então vamos pensar neles e dar-lhes resposta". A socióloga acrescenta que também tem que existir "um esforço de todos nós, do mundo como um todo, de desenvolver estas regiões". Dá exemplo de setores como a educação, a igualdade de género, o melhor acesso aos sistemas de saúde e ao planeamento familiar, "áreas em que se deve trabalhar para que as populações mais pobres não aumentem tanto".
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População mundial vai continuar a aumentar, afirma Associação Portuguesa de Demografia
"Estima-se que o crescimento da população mundial vá continuar até à segunda ou terceira década do século XXII", garante o presidente da Associação. Paulo Machado acrescenta que, apesar disso, em termos globais, "estamos a crescer a um ritmo menor do que há 50 anos".
"Começamos a abrandar esse crescimento, portanto é possível abrandar esse comboio demográfico e ficar essa estabilização nos 11 mil milhões de pessoas."
Segundo o presidente da APD, "o problema está na consequência desse crescimento" que se verifica atualmente. "Esse crescimento é igual a concentração urbana e aí sim, é nessa concentração desregulada que se retira qualidade de vida às população e há um atentado à sua dignidade." Ao invés, noutros países, como Portugal, "são sentidos problemas reais como a escassez de gente mais nova e de mão de obra".