Falta de "voz unificada" e a postura de Borrell: a guerra Israel-Hamas vista pelos eurodeputados
No Fórum TSF, os eurodeputados portugueses debateram o conflito no Médio Oriente.
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O conflito entre Israel e o Hamas prolonga-se há mais de duas semanas e já conta com avisos de vários lados: de Israel ao Irão, passando também pelos Estados Unidos. No Fórum TSF, o eurodeputado socialista Pedro Marques defende que a instabilidade no Médio Oriente alastra ao resto do mundo. No caso da União Europeia, Pedro Marques pede que se fale a uma só voz.
"[É preciso] uma voz unificada, coisa que nós não tivemos durante demasiado tempo nos primeiros dias desta guerra", afirma, dando o exemplo de "diferenças tão importantes entre o Conselho e a presidente Von der Leyen, que na sua deslocação a Israel não transmitiu uma mensagem mais equilibrada que o Conselho e o Alto Representante da Política Externa vinha transmitindo. Não foram bons os primeiros dias da resposta europeia a esta situação".
Pedro Marques destaca o "contraste" com a resposta norte-americana, "onde a mensagem foi forte e assim tem de ser".
"Nós temos de exercer toda a pressão diplomática possível para encontrar caminhos de estabilização, utilizar os nossos recursos do lado da ajuda humanitária, mas usar toda a nossa força junto das diplomacias na região", considera.
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Ao contrário do que defende Pedro Marques, o eurodeputado do PSD, Paulo Rangel, critica a postura de Josep Borrell.
"Quem esteve muito mal desde o início foi o alto representante Josep Borrell que tem estado claramente numa atitude de hostilidade a Israel e isso não me parece que seja positivo, porque num primeiro momento quando se deu o ataque do Hamas não era altura de estar a fazer a pedagogia que depois se impõe, designadamente sobre a questão humanitária e a primeira coisa que fez foi, de facto, logo um alerta contra Israel", refere o eurodeputado social-democrata.
Paulo Rangel diz que Josep Borrell fez uma intervenção "totalmente unidimensional" no Parlamento Europeu. "Foi alguém que manteve uma visita à China numa altura em que deveria estar a visitar as capitais árabes, como Antony Blinken e, portanto, acho que esse era um esforço que lhe cabia a ele como alto representante", sublinha.
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Por outro lado, Marisa Matias, eurodeputada do Bloco de Esquerda, elogia o trabalho do chefe da diplomacia europeia.
"Creio que se seguisse a linha do que tem sido tornado como uma posição pública do Serviço de Ação Externa por Josep Borrell, creio que estaríamos a fazer muito mais do que na realidade estamos a fazer", diz, assinalando que a resolução da União Europeia e do Parlamento Europa, apesar de referir "a necessidade de uma pausa humanitária", é "muito enviesada" e "não representa a situação concreta que se está a passar em Israel e em Gaza".
"Era importante que a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, pudesse deixar a representação a quem devia tê-la, que é o Alto Representante Josep Borrell", atira Marisa Matias.
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Nuno Melo, eurodeputado do CDS, sublinha que a União Europeia tem tido um papel interveniente, mas a situação é muito complicada.
"A União Europeia tem um papel interveniente. Sabemos da polémica recente da simples ida de Von der Leyen ao território e, de resto, a União Europeia contribui financeiramente para causas humanitárias na Palestina há muito e reclama há já bastante tempo uma verificação da utilização desse dinheiro no plano humanitário e não para fins militares. O conflito é em si mesmo tão complexo e tão difícil de gerir e agrega à volta de si já tantas potências à escala global que é difícil qualquer protagonista ter um papel decisivo no sentido de alteração das circunstâncias", nota.
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Na sequência de um ataque do grupo islamita Hamas a 7 de outubro, que matou 1400 pessoas em Israel, Telavive está a levar a cabo um intenso bombardeamento de Gaza desde então, com um saldo de cerca de 4700 mortos.
Israel também impôs um cerco à Faixa de Gaza, onde vivem 2,3 milhões de pessoas, cortou o fornecimento de eletricidade e água, e o acesso a bens essenciais, incluindo o combustível necessário para os geradores.
A tragédia provocada pelo intenso bloqueio e bombardeamento causou comoção internacional e levou países que inicialmente se referiram apenas ao direito de defesa de Israel a exigir proporcionalidade e respeito pelo direito humanitário.