Oleksandra Petrakova é uma estudante de Kharkiv, que tal como muitos milhões, foi obrigada a fugir. A jovem saiu da cidade com o namorado, os pais e o avô seguiram depois.
Corpo do artigo
A família está agora em Ternopil, uma localidade na zona ocidental da Ucrânia. Foi lá que foram acolhidos pelos amigos de uns amigos, mas já conseguiram alugar uma pequena casa. Foi daí que falou com a TSF sobre o que tem vivido desde o início da guerra.
TSF\audio\2022\03\noticias\16\serra
Oleksandra Petrakova admite que não esperava a invasão e até recusou o conselho do namorado para comprarem comida que não se estragasse. Apesar dos bombardeamentos quase desde o primeiro dia ela nunca pensou que fosse necessário fugir. "Pensámos que íamos ficar porque nos sentíamos muito seguros. Depois dos fortes bombardeamentos e de um ruído desconhecido que ouvimos na madrugada de dia 1 para dia 2, decidimos que tínhamos de sair o mais depressa possível," conta Oleksandra.
A jovem de 20 anos vivia no centro de Kharkiv e para chegar à estação de comboio apanhou um táxi. Foi uma viagem de apenas seis minutos, mas que custou dez vezes mais do que em tempo de paz. Para chegar ao comboio teve de passar pela estação do metro onde estavam muitas pessoas para fugirem dos bombardeamentos. Ouvida pela TSF Oleksandra Petrakova admite que mesmo aí ainda não pensava no pior, "nunca acreditei que eles bombardeassem centenas de pessoas juntas, mas isso não era verdade. Uns dias depois de sairmos houve um ataque contra a estação de comboios."
14684986
Oleksandra confessa que tentar apanhar o comboio foi uma aventura porque nenhuma das composições identificava o destino. Quando finalmente já estavam à porta foram informados que só podiam seguir viagem as mulheres, crianças e idosos. A partir daí foi a confusão total, as famílias começaram a ser separadas "os elementos da defesa territorial começaram a retirar os homens, tirar os maridos, os pais e os irmãos. Foi uma imagem horrível. Havia muitas mulheres e crianças a chorar. Era um comboio para o inferno."
A estudante diz que agarrou no braço do namorado e só o largou quando estavam sentados no comboio, foi assim que ele conseguiu deixar a cidade. Oleksandra conta que muitos outros homens tentam a sorte durante a noite, quando há menos oficiais na estação. Ela admite alguma perplexidade perante esta situação porque os homens, entre os 18 e os 60 anos, estão proibidos de sair do país, mas não há nada que os obrigue a ficar em risco numa cidade.
A viagem de Kharkiv até Ternopil durou 20 horas. Oleksandra diz que grande parte foi feita durante a noite e por isso não conseguiu perceber se havia muita destruição nos suburbios da cidade.
A semana passada os pais saíram também de Kharkiv, mas de carro, no caminho foram buscar o avô que estava hospitalizado. Agora já numa casa alugada e com a família toda reunida Oleksandra diz que não vai sair da Ucrânia. "O meu namorado é obrigado a ficar no país e por isso não podemos sair todos juntos. Se não fosse por ele a minha mãe queria ir para o estrangeiro. Eu disse-lhe, no entanto, que seria muito difícil porque aqui na zona ocidental falamos a mesma língua, temos todo o conforto de que precisamos. Temos cama e água quente. Se sairmos seremos apenas refugiados," explica.
Oleksandra acrescenta que seria também muito difícil sair com o avô porque ele tem algumas incapacidades e está doente. Ele não teve alta do hospital, os pais tiraram-no para poderem fugir juntos.
Apesar de querer continuar na Ucrânia, a estudante vai viajar em breve porque é a representante jovem da Ucrânia no Conselho da Europa. Ela gostava de ser ouvida na reunião plenária, se isso não for possível vai contar aos jovens o que se está a passar no país.
Oleksandra diz que compreende que os líderes da NATO não queiram um confronto direto com a Rússia, no caso de uma 3ª guerra mundial também os ucranianos ficam a perder. "Como ucranianos, agora podemos mudar-nos para outro estado e continuamos a ter um país para onde voltar, um país que reconstruir. Se houver um conflito global não haverá Europa para nos receber. Não haverá Europa para onde fugir."
A jovem estudantes de direito, numa universidade de Kharkiv, agradece a todos o apoio que estão a dar à Ucrânia e confessa que se sente unida a todo o mundo e mais europeia do que nunca.