Fármacos, microplásticos, alterações climáticas e espécies invasoras estão a degradar rios
Estudo publicado na revista Nature conclui que recuperação da biodiversidade dos rios europeus estagnou na década de 2010.
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O estudo baseou-se em dados recolhidos ao longo de 30 anos em vários ecossistemas ribeirinhos da Europa. Foram analisadas mais de 26.600 amostras e a intenção foi analisar se, ao longo das últimas décadas, tem havido efetivamente uma recuperação da biodiversidade aquática dos sistemas ribeirinhos, em resultado das medidas de mitigação implementadas na Europa.
Maria João Feio e Manuel Graça, do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) da Faculdade da Universidade de Coimbra, foram dois dos investigadores entre muitos de toda a comunidade científica da Europa que utilizaram os invertebrados aquáticos como bioindicadores da qualidade ecológica dos rios. Concluíram que, apesar das tendências positivas dos anos 90, a partir de 2010, a recuperação da biodiversidade dos rios estagnou. Na década de 90, as melhorias deveram-se "ao maior tratamento de esgotos, de efluentes industriais mas também urbanos e isso levou a uma melhoria nas condições dos rios europeus, que, em alguns casos, estavam em condições bastante dramáticas", sublinha Maria João Feio.
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Apesar dos projetos para combater a degradação dos rios terem continuado, mesmo assim o número de espécies em alguns locais diminuiu 30%. E a partir de 2010 a situação agravou-se.
"Tem havido um conjunto de novos impactos sobre os rios, que são poluentes como os fármacos, novos poluentes industriais, os micro plásticos e novas espécies invasoras", acrescenta. O número de espécies não nativas aumenta 4% ao ano. Além disso, a recuperação da biodiversidade estagnou ou regrediu mesmo em locais com temperatura mais elevadas, sinal de que as alterações climáticas estão a prejudicar os rios.
Os ecossistemas ribeirinhos onde se verificou menor recuperação foram os localizados a jusante de barragens, em áreas urbanas e terrenos agrícolas.
Esta investigação, que envolveu 96 investigadores europeus de 70 instituições foi coordenada por investigadores do Senckenberg Research Institute e Natural History Museum Frankfurt, na Alemanha.