A estação da Universidade de Évora foi a primeira na Europa a detetar as partículas de fumo.
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O Instituto de Ciências da Terra (ICT), da Universidade de Évora garante que a pluma de fumo proveniente de incêndios florestais no Canadá, e que atingiu a Península Ibérica nos últimos dias, já atingiu países da Europa central. "Está a atingir França e Alemanha, mas isso não quer dizer que não volte a afetar-nos daqui a alguns dias", comenta Maria João Costa. A investigadora do Grupo de Investigação em Ciências da Atmosfera, Água e Clima do Pólo de Évora do ICT acrescenta que "aqui ainda temos uns restos", mas muito menos do que nos últimos dias.
O Sistema Lidar Raman da Universidade de Évora começou a detetar a pluma de fumos dos incêndios do Canadá no final da tarde de quarta-feira, 26 de junho, em altitudes compreendidas entre um e cinco quilómetros. Este sistema faz parte da rede EARLINET que se insere no Consórcio Europeu de Infraestrutura de Investigação ACTRIS (The Aerosol, Clouds, and Trace Gases Research Infrastructure) e permite obter informação referente a diferentes altitudes na atmosfera. A estação de Évora foi a primeira estação da Europa a detetar as partículas de fumo.
A investigadora adianta que os incêndios no Canadá já atingiram uma área de 77 mil quilómetros quadrados, cerca de 90%da área de Portugal Continental.
Com a sua disseminação pela atmosfera, as partículas de fumo podem alterar-se e afetar de forma diferente o clima. "Há ainda um certo desconhecimento acerca da caracterização destas partículas e ainda não sabemos como elas reagem por exemplo com a radiação solar, ou como integram todo o processo de criação de nuvens", sublinha. Maria João Costa adianta também que, consoante o nível da atmosfera em que se encontram, podem comportar-se de forma diferente. "Se estão num nível mais baixo podem ter um efeito de aquecimento, se estiverem mais alto ou se forem injetadas na estratosfera, podem ter o efeito contrário", adianta.
Se as partículas se depositarem em sítios com latitudes mais altas e que tenham neve ou gelo, por exemplo, têm o efeito de tornar essas superfícies mais escuras", esclarece. "Como essas superfícies geralmente são muito refletoras da radiação solar, não deixando aquecer tanto, se essas superfícies deixam de ser refletoras há mais aquecimento", aponta.
Contudo, ressalva que há ainda muito para saber sobre a matéria e que esse conhecimento irá ajudar quem faz os modelos sobre previsão do tempo e do clima.