Os militares apelam à população a "manter a calma e a serenidade", anunciando uma "nova era" e comprometendo-se a respeitar "a paz, a estabilidade e a dignidade".
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O general Brice Oligui Nguema foi nomeado "presidente da transição" no Gabão, através de um comunicado lido na televisão estatal, no final de uma reunião das chefias que tomaram o poder na madrugada desta quarta-feira.
A junta militar que detém agora o poder no Gabão escolheu o general que era o chefe da Guarda Republicana "por unanimidade", de acordo com o relato da agência Efe, consumando assim o fim da dinastia da família Bongo, que liderava o país há 55 anos.
O Comité para a Transição e Restauração das Instituições, o nome oficial da junta militar, anunciou o novo líder num comunicado lido pelo coronel Ulrich Manfoumbi na cadeia de televisão pública, a Gabão 24.
No comunicado, os militares apelam à população a "manter a calma e a serenidade", anunciando uma "nova era" e comprometendo-se a respeitar "a paz, a estabilidade e a dignidade".
O anúncio da nova liderança no Gabão surge no mesmo dia em que o presidente da Nigéria, que ocupa a presidência da Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO), disse "seguir de perto" os acontecimentos no Gabão.
Bola Tinubu expressou "profunda preocupação" com o golpe de Estado no Gabão e lamentou o "contágio da autocracia", lembrando que "o poder está nas mãos das pessoas e não no gatilho de uma pistola" e defendendo uma solução pacífica para as disputas.
Depois de uma curta interrupção, as atividades do grupo mineiro francês Eramet no Gabão serão retomadas progressivamente "a partir desta noite", anunciou esta quarta-feira a empresa.
"Tendo em conta as informações disponíveis esta noite sobre os acontecimentos em curso no Gabão, o grupo decidiu reiniciar imediatamente o transporte ferroviário e retomar as atividades mineiras a partir de quinta-feira", refere o comunicado citado pela agência France-Presse.
A União Africana condenou "firmemente a tentativa de golpe de Estado" no Gabão, considerando que é uma "flagrante violação" dos princípios da organização.
O presidente da comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, "apela às forças de segurança para terem em conta a sua vocação republicana, a garantia da integridade física do Presidente da República, dos membros da sua família e dos seus governantes", lê-se num comunicado.
A reação da União Africana é a mais recente de um conjunto de declarações da comunidade internacional, no dia em que Marrocos, um tradicional aliado do Gabão, disse que "segue de perto" a evolução da situação, mas sem condenar o golpe contra o Presidente.
Os militares anunciaram que tinham "posto um fim no atual regime" no Gabão e colocaram o Presidente, Ali Bongo Ondimba, sob prisão domiciliária, depois de ter vencido as eleições do passado fim de semana.
Há 55 anos que esta nação africana, rica em petróleo e membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), é governada por membros da família Bongo, com o atual Presidente a ter sucedido ao seu pai em 2009.
Os residentes manifestaram-se esta quarta-feira as ruas para apoiar os militares, mesmo depois de o Presidente ter pedido aos "amigos" para "fazerem barulho".
O Gabão enfrenta desde a madrugada um golpe de Estado levado a cabo por militares, iniciado pouco depois de terem sido anunciados os resultados das eleições de sábado, segundo os quais o Presidente, Ali Bongo Ondimba, permaneceria no poder, dando continuidade a 55 anos de domínio do poder pela sua família.
Um grupo de militares do Gabão anunciou na televisão o cancelamento das eleições presidenciais que reelegeram Ali Bongo e a dissolução de todas as instituições democráticas.
Depois de constatar "uma governação irresponsável e imprevisível que resulta numa deterioração contínua da coesão social que corre o risco de levar o país ao caos (...) decidiu-se defender a paz, pondo fim ao regime em vigor", declarou um dos militares.
O mesmo militar, alegando falar em nome de um Comité de Transição e Restauração Institucional, disse que todas as fronteiras do Gabão estavam "encerradas até nova ordem".
Durante a transmissão televisiva ouviram-se tiros de metralhadoras automáticas em Libreville.
Horas antes, a meio da noite, às 03h30 (mesma hora em Lisboa), o Centro Eleitoral do Gabão (CGE, na sigla em francês) tinha divulgado na televisão estatal, sem qualquer anúncio prévio, os resultados oficiais das eleições presidenciais.
A comissão eleitoral anunciou que o Presidente Ali Bongo Ondimba, no poder há 14 anos, tinha conquistado um terceiro mandato nas eleições de sábado com 64,27% dos votos expressos, derrotando o principal rival, Albert Ondo Ossa, com 30,77% dos votos.
O anúncio foi feito numa altura em que o Gabão estava sob recolher obrigatório e com o acesso à Internet suspenso em todo o país, medidas impostas pelo Governo no sábado, dia das eleições.