Roberto Falanga, investigador do ICS, analisa na TSF a chegada da nova primeira-ministra ao poder em Roma. A líder dos Irmãos de Itália é empossada este sábado e torna-se na primeira mulher, da história do país, a ocupar o cargo.
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Giorgia Meloni é, oficialmente, a primeira-ministra de Itália. A líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália esteve reunida na sexta-feira com Sergio Mattarella no Quirinal, residência oficial do Presidente da República. Meloni foi convidada a formar Governo e ao seu lado tem agora o Partido Liga, de Matteo Salvini, e o Força Itália, de Silvio Berlusconi.
Três foi a conta que Itália fez, e o resultado já estava nas contas de Roberto Falanga, investigador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS).
"Pode representar um primeiro sinal de uma transformação em curso, na Europa. Representa, claramente, um ponto de rutura com a política dos últimos anos, em Itália e provavelmente vai representar um ponto de rutura também noutros países da Europa. Mas, para mim, esta é uma notícia esperada", afirma Roberto Falanga, em declarações à TSF, sobre a eleição de Meloni.
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Giorgia Meloni chegou a ameaçar deixar cair o Governo, caso os aliados Matteo Salvini e Silvio Berlusconi não demonstrassem apoio claro à Ucrânia, no conflito de fevereiro.
Ainda assim, a primeira-ministra acaba por formar Governo, mesmo depois de ter sido revelado um áudio onde Berlusconi admite ter trocado presentes e correspondência com o presidente russo, Vladimir Putin.
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"Depois de muito tempo, retomei um pouco as relações com o presidente Putin, que no meu aniversário me enviou 20 garrafas de vodka e uma carta muito gentil. Retorqui com garrafas de Lambrusco e um menu igualmente suave", adiantou Berlusconi, numa cerimónia à porta fechada com militantes do Força Itália, segundo um áudio transmitido pela agência 'LaPresse'.
O investigador do Instituto de Ciências Sociais admite que existe um conflito interno, mas acredita que não é suficiente provocar a queda do executivo de Meloni.
"O conflito interno existe claramente, porque tanto a Liga como o Força Itália mostraram uma certa simpatia para com a Rússia, mas isto não significa que o Governo caia. O Governo deve continuar, até porque, tem o apoio das forças pró-NATO. Sendo que Meloni é declaradamente uma líder pró-NATO e, portanto, já tem o aval dos parceiros internacionais", sublinha o investigador.
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Roberto Falanga afirma que o governo começa "com o pé torto", mas acredita que durará mais tempo que os 45 dias de Lizz Truss.
"Este Governo nasce com o pé torto por causa das declarações feitas pelo Salvini e pelo Berlusconi, mas, na verdade, há toda a intenção de manter o Governo de pé, durante algum tempo. Portanto, diria que durará mais do que o Governo de Liz Truss", considera Roberto Falanga.
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Na sexta-feira, Meloni entregou a lista com os membros do executivo. Salvini fica com a pasta das Infraestruturas e o número dois do Força Itália com os Negócios Estrangeiros. António Tajani, do Força Itália, encarregar-se-á também da diplomacia italiana.
As escolhas não surpreendem Roberto Falanga. Para o investigador do ICS, mais do que os nomes escolhidos por Meloni, importa olhar para alteração dos nomes dos ministérios, que diz "pode representar uma nova orientação política".
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"O que me saltou à vista foi o nome de alguns ministérios. Por exemplo, o ministério da Alimentação e da Soberania alimentar, que é indicativo de uma certa orientação política. Depois, Educação e Mérito, o facto de ter acrescentado o 'Mérito', faz-me alguma comichão. E até o ministério do desenvolvimento económico passou para 'Empresas e Made in Italy', utilizando uma expressão que nem é em língua italiana. Coisa que o partido de Giorgia Meloni poderia ter defendido com mais força", aponta o investigador do ICS.
Giorgia Meloni, a líder do partido de extrema-direita Irmãos de Itália toma posse este sábado, às dez horas locais (menos uma hora em Lisboa). Aos 45 anos, torna-se a primeira mulher a ser chamada para o cargo na história italiana.