"Glory to Hong Kong", a música pró-democracia que o Governo quer banir até da Internet
A música foi o hino das maiores manifestações pró-democracia na antiga colónia britânica em 2019. O Governo interpôs uma providência cautelar em tribunal para criminalizar a difusão, impressão, publicação, venda ou reprodução da melodia e letra da canção de protesto, até nas plataformas online.
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O advogado britânico Michael Vidler conhece bem a música "Glory to Hong Kong". O britânico viveu na antiga colónia britânica durante 30 anos, não tinha por hábito ir aos protestos, mas defendeu vários ativistas e recorda-se de causar o pânico na família.
"Antes de deixar Hong Kong de vez, lembro-me de andar nas ruas a assobiar a canção, porque é uma música que fica no ouvido. E os meus filhos estavam preocupados. Pensavam que eu ia ser preso. Este é o ponto a que chegou a repressão em Hong Kong", afirma.
"Glory to Hong Kong" tem autor desconhecido. Contém slogans proibidos pelo Governo e versos saídos de um fórum online nos protestos de 2019.
Para as autoridades, a música incita a sedição e secessão, mas o defensor dos direitos humanos contesta: "Este hino é todo sobre democracia. Não tem nada a ver com a secessão da China. É a pedir mais democracia para Hong Kong."
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A música chegou a ser usada, por engano, em competições internacionais, como no Mundial de Hóquei no Gelo, em vez do hino da China.
"Quando surgiram estes erros nos estádios internacionais, os governos de Hong Kong e da China ficaram horrorizados. E por causa disso, agora deram este passo extraordinário de tentarem banir a reprodução deste hino na internet a nível mundial", sublinha Michael Vidler.
Depois da providência cautelar do governo, a canção tornou-se no termo mais procurado no Google para "hino nacional de Hong Kong", e chegou a ser a música mais popular no Spotify.
O advogado britânico confessa não ter ficado surpreendido com a resposta desafiante da população às intenções do governo. Vidler descreve os 'honkongers' como "engenhosos" e "criativos", mas alerta que os perigos são reais, depois da entrada em vigor da Lei de Segurança Nacional.
"Se tocarem a música e as autoridades souberem quem são essas pessoas, mesmo quem está no estrangeiro, ao entrar na China ou em Hong Kong corre risco de prisão. Essa é a ameaça. Como é que eles vão policiar as buscas no Google ou a difusão no YouTube? Ninguém sabe", destaca o advogado, que faz também referência à existência de linhas vermelhas.
Para as autoridades conseguirem remover qualquer referência ao tema da Internet, as gigantes tecnológicas teriam de aceitar retirar a música dos motores de busca e servidores a nível mundial. Mas Michael Vidler sublinha que não seria a primeira vez que o Governo chinês seria bem-sucedido nas pressões.
"Já foram muito determinados ao imporem a definição de Taiwan a organizações internacionais que tinham uma designação independente para a ilha. E muitas companhias ou até Estados vergaram perante as ameaças. Essa é a grande preocupação: Se as grandes empresas vão ceder ou se vão fazer frente às pressões dos governos de Hong Kong e da China", salienta.
Enquanto se aguardam os próximos desenvolvimentos, o advogado acredita que o hino não oficial "Glory to Hong Kong" vai continuar a tocar,
nem que seja na clandestinidade.