Harpa entregue a menina irlandesa em fronteira montanhosa para não violar regras sanitárias
Atravessar a fronteira entre Wicklow e Dublin é proibido, mas o sonho de Muireann Ní Mhuirthile falou mais alto. Kevin Harrington, fabricante de harpas de alto valor, entregou o instrumento à menina sem quebrar normas de saúde.
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Foi na fronteira invisível em que Wicklow (cidade irlandesa que se liga à capital Dublin via rodovia N11 e rede nacional ferroviária) se encontra com Dublin que Muireann Ní Mhuirthile, de dez anos, pôde receber a sua harpa. O instrumento de madeira, esculpido à mão pelo especialista Kevin Harrington, levara vários meses a ser fabricado, mas a pandemia conspirou contra a entrega, que implicaria atravessar dois condados, numa altura em que as restrições devido à Covid-19 se tornam mais intrincadas no território irlandês.
O jornal The Irish Times conta que o Dia Nacional da Harpa (no último sábado) estava próximo e a menina já se preparava para ir recolher a encomenda em Wicklow quando restrições de grau três foram impostas, entre as quais a proibição de ir e vir entre condados distintos. A mãe de Muireann Ní Mhuirthile começou por brincar com a possibilidade de a entrega ter de ser feita na fronteira, visto que o seu irmão, um ciclista, conhecia pelo menos 11 pontos de travessia nas estradas da montanha. O encontro deu-se em Featherbeds, uma charneca perto do Vale View Cottage (Glenasmole), na Antiga Estrada Militar.
Na última quarta-feira, o fabricante do instrumento entregou o objeto: uma harpa irlandesa moderna de 34 cordas esculpida em cerejeira no valor de 4500 euros, meticulosamente modelada para tocar o melhor da música tradicional irlandesa. Kevin Harrington, o artesão, tinha telefonado à mãe da menina, a aceitar entregá-la a Muireann Ní Mhuirthile na fronteira, de forma a não desrespeitar qualquer regra sanitária. "A harpa para nós é um símbolo da Irlanda", revelou a matriarca ao jornal The Irish Times.
A mãe da menina de dez anos garante que Muireann Ní Mhuirthile até chorou de felicidade. Desde os seis anos, quando começou a tocar, nunca tinha tido um instrumento próprio. Durante a pandemia, Muireann Ní Mhuirthile manteve as aulas online e passou nos exames de Música do quarto ano com distinção pela Royal Irish Academy of Music.
Impressionados com o trabalho de Kevin em um evento de harpa na biblioteca Lexicon de Dún Laoghaire no ano passado. No entanto, como Kevin Harrington, os familiares resolveram substituir o objeto alugado com que a menina tocava por um fabricado à mão, mas, quando a pandemia surpreendeu o país com grande impacto, o horário de trabalho de Kevin Harrington foi diminuído e tornou-se mais difícil conseguir peças oriundas de França e dos Estados Unidos.
O trabalho que levaria um mês viu-se estendido a vários. A harpa de Muireann Ní Mhuirthilenão chegou a tempo do Dia Nacional da Harpa, mas foi estreado em segurança e com a alegria notória da menina de dez anos.
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