É conselheiro regional de equipas médicas de emergência da OMS no Médio Oriente e coordenador de trauma desta organização para Gaza. Conhece bem o hospital bombardeado esta terça-feira e falou com a TSF.
Corpo do artigo
"Esse hospital é um dos hospitais mais antigos de de Gaza. Na verdade fica mesmo ao sul da cidade propriamente dita", começa por dizer à TSF. É um hospital que "vem do tempo do mandato britânico da Palestina. É um hospital que é gerido por uma organização não governamental religiosa, num bairro de alta densidade. Conheço-o de o ter visitado há uns anos, mas nunca trabalhei lá. Mas de facto, temos hospitais a ser atingidos. Nesta fase, isto é o pior dos cenários, claramente".
O cirurgião Nelson Olim viveu quase dois anos em Gaza (entre 2018 e 2019). "Um dia de cada vez, histórias reais da medicina de emergência e humanitária" é o nome do livro que acaba de publicar. O médico e autor também viveu em Israel, anos antes, em 2001, quando fez uma especialização em trauma, num conceituado hospital em Haifa.
Para este profissional da medicina de emergência com profundo conhecimento do terreno, uma população assustada saber que nem num hospital está segura é o fim de qualquer esperança, é o desespero:
"Independentemente de onde veio o disparo, porque essa é quase uma discussão que nesta fase é quase clubística, não é? Isto é, aquela visão do penalti visto de um lado ou visto do outro, a questão é como é que uma população que está claramente em fuga, que está assustada, que procura refúgio naquilo que é suposto ser um santuário, que é o local mais sagrado numa guerra, diríamos assim, que é um hospital, e ainda assim é atingida, isto retira de facto toda e qualquer esperança", lamenta o cirurgião licenciado em medicina pela Universidade de Lisboa, com vasta experiência de terreno em cenários de guerra.
Para Olim, "isto é o deitar a dignidade por terra, isto é lançar as pessoas no desespero. Eu acho que essa é a grande questão: pensar o que é que vai na cabeça daquelas pessoas agora, quando querem encontrar um lugar que seja minimamente seguro, porque simplesmente querem proteger-se a si e sua família e porque acham que esta guerra não tem nada a ver com eles, ainda assim não estão seguros".
TSF\audio\2023\10\noticias\18\nelson_olim_nem_no_hospital_estao_seguros
Vai poder ouvir a entrevista a Nelson Olim, na íntegra, no programa O Estado do Sítio, de Ricardo Alexandre, na TSF, no próximo sábado, após as 12h00.