Itália deserta. "As pessoas começaram a apanhar os comboios que podiam, e foi um caos"
A TSF conversou com uma emigrante portuguesa em Itália. Anita Marques, que trabalha numa associação de voluntários no âmbito do programa Erasmus, ilustra uma situação nunca antes vista no país europeu mais afetado pela Covid-19.
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Anita Marques nunca viu Milão assim, "uma cidade deserta". A portuguesa, emigrada há cinco anos, está em casa desde sábado, quando a região de Lombardia foi declarada zona vermelha. "Neste momento, ouço um silêncio que nunca tinha ouvido em cinco anos, desde que vivo aqui. Eu nunca vi Milão nesta situação."
À conversa com a TSF, a emigrante relata um cenário de pânico generalizado. "As pessoas começaram a fugir. Começaram a apanhar todos os comboios que podiam, e foi um caos no sábado à noite."
Agora, com a quarentena estendida a todo o território italiano desde segunda-feira à noite, quem quer sair tem de preencher uma declaração, que foi disponibilizada pelo Ministério italiano do Interior. "Não se pode sair de casa, a não ser por questões de trabalho urgente, ir ao supermercado, mas, para se sair, tem de se assinar uma autodeclaração sobre a deslocação que estamos a fazer", explica Anita Marques.
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No entanto, os procedimentos ainda não foram interiorizados e há muitas dúvidas entre a população. "As pessoas ainda estão a perceber como se podem mover, e há algumas lojas ainda abertas e que em breve serão fechadas. O que nos dizem é para não sairmos de casa, exceto por motivos necessários e urgentes."
Nos meios de comunicação social, multiplicam-se os apelos para que as regras sejam cumpridas. Fora dos hospitais circulam relatos sobre a falta de capacidade de internamento e a informação é transmitida de médico para médico de forma oficiosa. A portuguesa em Milão partilha com a TSF as informações que lhe têm chegado sobre o atendimento nas unidades de saúde: "Neste momento estão a avaliar quem devem entubar ou não. Não é uma notícia oficial, porque o Governo não pode alarmar as pessoas."
Trabalha numa associação de voluntários no âmbito do programa Erasmus e, até 3 de abril, adiantará trabalho a partir de casa, mas até lá Anita Marques espera dias "muito difíceis" e solitários. "Quando saio do prédio habitualmente vejo uma rua em que muitos carros circulam, pessoas que vão ao Parque, uma escola até às 16h00, por isso costumo ver o movimento dos pais que levam as crianças à escola." A agitação nas ruas deu lugar ao silêncio e ao isolamento.
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